Os chefes de equipa de ginecologia e obstetrícia do Hospital Amadora Sintra ameaçaram ontem demitir-se dentro de duas semanas. Em causa estão vários problemas identificados pelos profissionais, como dá conta a carta que entregaram ontem à administração do hospital.
“As atuais condições de assistência no serviço de urgência de ginecologia e obstetrícia do hospital Fernando Fonseca ultrapassaram em várias das suas vertentes, os limites mínimos de segurança aceitáveis para o tratamento dos doentes críticos que diariamente a ele recorrem”, escrevem os chefes de equipa na carta, à qual a Lusa teve acesso. Os médicos escrevem também que “as equipas têm ultrapassado todas as dificuldades e constrangimentos com que se têm deparado, tentando manter, com enorme esforço, nem sempre reconhecido, os padrões de qualidade e segurança históricos neste serviço de urgência”, recusando-se a “aceitar as situações criadas, continuando a assumir as responsabilidades inerentes à sua função […] face à degradação da qualidade assistencial no serviço de urgência do hospital Fernando Fonseca”.
A falta de recursos humanos descrita resulta numa “degradação progressiva” do serviço, “associada a um desaparecimento de condições essenciais” que permitam um correto funcionamento da urgência. Diminuíram, por exemplo, as salas de apoio de enfermagem, denunciam os chefes de equipa. Também os internos da especialidade assinaram uma minuta, na qual se recusam fazer mais do que as 200 horas de urgência por ano previstas na lei.
Os médicos exigem um “plano de emergência” que contemple uma gestão racional de recursos financeiros e humanos, com o doente como protagonista. Esta não é, de resto, a primeira vez que estes profissionais denunciam os problemas que agora os levam a ameaçar com a demissão, mas não têm sido tomadas “medidas com vista à diminuição das suas consequências”.
Entretanto, depois de o Sindicato dos Médicos da Zona Sul exigir “a rápida resolução da recomposição das equipas de obstetrícia do Hospital Fernando Fonseca (três especialistas e dois internos)”, para “superar a diminuição da qualidade assistencial prestada nesse hospital à população da Amadora e Sintra” e de o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), por sua vez, ter informado que ia solicitar uma reunião com a administração do hospital, a administração do Amadora Sintra informou que foi autorizada a lançar um concurso para médicos tarefeiros para os blocos de parto. Os médicos tarefeiros são contratados em regime de prestação de serviço e, como a administração do hospital explicou à Lusa, pretende-se que a contratação resolva o problema da falta de recursos humanos denunciada pelos médicos.
À semelhança do que fez com o Hospital de São José e com a Maternidade Alfredo da Costa, o bastonário Miguel Guimarães anunciou à Lusa que vai visitar o Hospital Amadora Sintra na próxima semana. Lembrou, no entanto, que “a situação não é exclusiva do Amadora Sintra”: “É transversal a muitos hospitais do país”.
Miguel Guimarães fez ainda saber que o colégio de especialidade de ginecologia e obstetrícia vai redigir um documento – que vai ser tornado público – com as regras obrigatórias na formação de equipas para o enviar ao Ministério da Saúde. No mesmo documento, o bastonário promete a identificação de alguns do casos mais problemáticos verificados nas unidades do país.