O presidente executivo da gigante automóvel italiana Fiat Chrysler, Sergio Marchionne, morreu na quarta-feira, aos 66 anos, devido a graves complicações na sequência de uma cirurgia.
O empresário italo-canadiano era um dos CEO mais antigos da indústria automóvel e ficou conhecido por ter resgatado a Fiat e a Chrysler do limiar da falência.
Apenas um ano depois de ter entrado para a empresa, foi nomeado, em 2004, como o quinto líder da Fiat num período de dois anos. Conseguiu que a companhia registasse lucros logo no ano seguinte, depois dos prejuízos de 8 mil milhões de euros em 2003. Descrito como um líder perspicaz, orquestrou uma revitalização do grupo na Europa com o fabrico de carros que foram um sucesso de vendas, como o Panda e o Fiat 500. Além disso, foi o responsável por grandes investimentos em novas fábricas e em modernos equipamentos de produção, a maior parte em Itália.
Mas aquele que é considerado o ‘golpe de mestre’ de Sergio Marchionne prende-se com a fusão da Fiat com a na altura falida norte-americana Chrysler.
Em 2009, quando a fabricante de automóveis dos Estados Unidos estava a atravessar um mau momento, a Fiat, juntamente com o United Automobile Workers (UAW) – o sindicato dos trabalhadores da indústria automóvel dos EUA – decidiram tornar-se nos principais investidores do grupo.
A Fiat começou com uma participação de 20% na Chrysler. Em 2012, aumentou para 58% e, em 2014, a empresa italiana ficou com a parte da UAW na empresa. Mais tarde, Sergio Marchionne optou por fundir a Fiat com a Chrysler e fundar a ‘Fiat Chrysler’.
A empresa italiana acabou por adquirir, assim, uma das ‘Big Three’ da indústria de fabrico de automóveis dos Estados Unidos – como são chamadas a General Motors, a Ford e a Chrysler (agora Fiat Chrysler) -, que inclui a marca Jeep, por 4,9 mil milhões de dólares (cerca de 4,19 mil milhões de euros).
A fusão, pensada e liderada por Marchionne, permitiu salvar a Chrysler e fazer renascer a Fiat, dando-lhe capacidade para sobreviver à escala mundial. Contudo, sendo a sétima maior empresa automóvel do mundo, a Fiat Chrysler pode não ter o tamanho necessário para competir num setor que está em constante modernização e transformação, alertam os especialistas. Além disso, a empresa já começou a sentir os efeitos da morte de Sergio Marchionne.
Depois de ter sido anunciada a saída do presidente executivo, no dia 22 deste mês, quando este já se encontrava internado e bastante debilitado, as ações da Fiat Chrysler caíram 4% na bolsa de Milão.
Viciado no trabalho
Sergio Marchionne era conhecido por raramente fazer pausas no trabalho, acabando por dormir muitas vezes no sofá do jato privado, enquanto viajava durante a noite entre Turim, Detroit e Londres, as três cidades onde o grupo Fiat Chrysler está localizado.
As reuniões ao fim de semana faziam parte da rotina do antigo presidente executivo do grupo, que preferia usar um pullover escuro em vez do tradicional fato. Dizem os que o conhecem, que o objetivo era nem sequer perder tempo a escolher ou a comprar roupa elegante.
Era viciado em tabaco e café, mas desde há cerca de um ano que estava a tentar diminuir o consumo dos dois. O objetivo era cuidar da saúde e melhorar a qualidade de vida, daí também ter anunciado que ia reformar-se em 2019.
Nos últimos meses, Marchionne estava então a preparar-se para diminuir o ritmo, mas antes queria concluir o plano que tinha traçado para os últimos cinco anos de eliminar a dívida da empresa Fiat Chrysler, tornando-a financeiramente mais forte. «Eu sou um solucionador. Enquanto alguma coisa não está completamente solucionada, não posso parar», afirmou durante uma entrevista.
Decisões controversas
Sergio Marchionne sacudiu a indústria automóvel com as suas decisões controversas que nem sempre o tornaram bem visto aos olhos dos seus adversários. Em 2016, decidiu que a Chrysler ia deixar de fabricar a maioria dos carros de passageiros para se concentrar no fabrico de SUV’s. A opção acabou por ser seguida pela Ford e pela General Motors. Na Europa, Marchionne afastou-se da produção de carros em massa, transformando a fábrica de Turim – que produziu cerca de 500 mil carros por ano na década de 1960 – na produtora de um nicho de SUV’s da marca Alfa Romeo e Maserati.
Marchionne era muito focado na construção de marcas. Em 2015, decidiu tornar a Ferrari e a CNH (fabricante de tratores e camiões) empresas separadas do grupo Fiat Chrysler, apesar de permanecer como presidente executivo das duas.
Transformou ainda a Jeep – que produziu 300 mil carros em 2009 – numa marca global cujas vendas para este ano estão estimadas em cerca de dois milhões de automóveis, depois de expandir o mercado na Europa, China, Índia e América do Sul.
Em março deste ano, na feira de automóveis de Genebra, o empresário italo-canadiano foi um dos executivos que se recusaram a aceitar uma proposta dos rivais alemães, Volkswagen, Daimler e BMW para assinarem uma declaração de compromisso com o uso de tecnologia diesel.
Defendendo a necessidade de uma maior consolidação da indústria automóvel, um dos planos mais recentes de Marchionne era chegar a acordo com a General Motors, a maior empresa do setor automóvel do mundo, para que se fundisse com a Fiat Chrysler. O projeto foi rejeitado em 2015, mas o executivo não tinha desistido da ideia.