A Vogue Itália disponibilizou no seu site um excerto da entrevista a Madonna, que falou sobre a influência de Lisboa no seu dia-a-dia. A rainha da pop falou sobre os momentos mais criativos em Alfama, sobre o que a levou a escolher a capital portuguesa e as coisas boas que Portugal em geral trouxe à sua família.
Madonna revelou que o sonho do seu filho David levou-a a abandonar Nova Iorque e a procurar uma nova casa: "O meu filho David, que vai completar 13 anos a 24 de setembro, quer jogar futebol profissional há vários anos. Estava desesperada para levá-lo às melhores academias, com os melhores treinadores, mas o nível futebolístico nos Estados Unidos é bastante inferior ao do resto do mundo. Vi a sua frustração, e senti que era uma boa altura para mudar de ares. Senti que precisávamos de uma mudança, e quis tirá-lo dos EUA, não que deixar os EUA fosse mudar algo, porque já vivi noutras cidades. Vivi 10 anos em Londres. Gosto de me colocar em situações desconfortáveis e correr riscos".
"Estávamos indecisos entre três cidades que têm academias de futebol: Turim, Barcelona e o Benfica em Lisboa. Fui a todos esses locais e tentei imaginar-me a viver em cada um dos sítios. Claro que Barcelona é uma cidade superdivertida e também gostei de Turim, mas Turim não é de todo uma cidade para crianças. É uma cidade para intelectuais, eles têm museus incríveis e casas bonitas, mas pensei que não seria divertido para eles [quatro dos seus seis filhos: David, Mercy, Stella e Estere]. Tive de ter todos em conta, não apenas o David. Então vim para Lisboa, que me pareceu a melhor escolha a nível global. A primeira coisa que fiz quando cheguei foi ir a Sintra, que tem uma floresta mágica. Há muita energia mística lá", revelou a cantora.
E o que Lisboa tem para oferecer? "Acho que Portugal é o país mais antigo da Europa. Está mergulhado em história, e o império português fez a diferença no mundo. A arquitetura é incrível. Portugal é também o berço da escravatura e, por isso, existem influências musicais provenientes de Angola, Cabo Verde e Espanha. Além disso, posso fazer uma das minhas coisas preferidas, andar a cavalo", respondeu a cantora.
Madonna falou também sobre a cultura portuguesa: “Digo sempre que Portugal é governado por três F: fado, futebol e Fátima. É também um país muito católico. Isso lembra-me Cuba, porque as pessoas não têm muito, mas abrem a porta de qualquer casa, vão a qualquer beco e ouvem música. No bairro de Alfama, existem pessoas que cantam e tocam fado em todo o lado. Todas as semanas, nos salões de casas particulares antigas, há reuniões de música ao vivo: suba os degraus de mármore entre as velas, entre na sala também iluminada pela luz suave das chamas e participe num espetáculo íntimo, em que as pessoas jogam, cantam e recitam poesia. Faz lembrar os salões burgueses do passado, praticamente desaparecidos praticamente em toda parte. Nos outros países ouve-se "Ligue para o meu gerente, o meu cachet é este". Estou mais do que certa de que em Lisboa as pessoas agem não por dinheiro, mas apenas pelo prazer da coisa em si e, na minha opinião, isso é muito estimulante”.
“Tento sempre mostrar aos meus amigos como funciona a cultura portuguesa. Todas as noites recebo um telefonema onde dizem que em certa casa vão estar a tocar este e aquele músico. Às vezes há comida, outras só Porto para beber. Normalmente, nas casas tudo está bem aberto e, dependendo do sítio onde está, tem uma vista para o rio Tejo. (…) Conheci muitos músicos maravilhosos e muitos deles acabaram por colaborar no meu novo disco, por isso Lisboa influenciou a minha música e o meu trabalho. Como poderia ter sido o contrário? Impossível passar um ano sem estar condicionado por toda a cultura que me rodeava”, acrescentou.
Mas Madonna não é fã apenas de músicos portugueses – a cantora revelou que é admiradora de uma outra artista portuguesa: “Lisboa é uma cidade tranquila, mas também tem uma aura melancólica, o que explica por que o fado nasceu aqui. É o lado romântico – e certamente também o criativo e artístico – que gera muita música bonita e muita arte em geral. Paula Rego é uma das minhas pintoras favoritas: há muita dor e tristeza nas suas pinturas”.
A revista vai amanhã, sexta-feira, para as bancas.