O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ultrapassou esta semana uma linha que poucos presidentes ultrapassaram no passado: aconselhou o poder judicial a pôr fim a uma investigação na qual o próprio é investigado. «Esta é uma situação horrível e o procurador-geral Jeff Sessions devia terminar imediatamente com esta caça às bruxas, antes que manche ainda mais o nosso país», escreveu Trump na rede social Twitter. «Bob Mueller tem um enorme conflito de interesses e os 17 democratas furiosos que estão a levar a cabo o seu trabalho são uma desgraça para os EUA!».
O mural do Twitter de Trump está repleto de ataques às investigações sobre a interferência russa nas eleições, conduzidas pelo conselheiro especial Robert Mueller, mas com estas afirmações poderá ter obstruído a Justiça, além de violar a separação de poderes entre o executivo e o judicial no sistema político norte-americano.
«O Presidente dos Estados Unidos acabou de ordenar ao procurador-geral para acabar com uma investigação na qual o presidente, a sua família e campanha poderão ser implicados», criticou Adam Schiff, congressista democrata. «É uma tentativa de obstrução da Justiça escondida à vista de todos», reforçou.
Para Trump, as investigações à sua relação com Moscovo durante as eleições de 2016 não são mais que uma conspiração do Partido Democrata para o descredibilizar aos olhos do seu eleitorado. É uma «caça às bruxas», como o chefe de Estado está sempre a reforçar, colocando em causa a independência judicial de Mueller, que acusa de estar sob a influência e em conluio com os seus adversários políticos. No entanto, Mueller responde diretamente a Sessions, que, por sua vez, é republicano.
Perante a gravidade das declarações de Trump e o avolumar de críticas, a Casa Branca foi célere a desvalorizar e a garantir que não foi de forma alguma uma ordem ao procurador-geral. «Não é uma ordem, é a opinião do presidente», disse Sarah Sanders, porta-voz do Presidente, aos jornalistas. Todavia, a Casa Branca já disse no passado que as publicações de Trump na rede social constituem posições oficiais da administração.
E como se não fosse o suficiente para acalmar os ânimos, um dos advogados de Trump, Jay Sekulow, emitiu um comunicado a afirmar que o chefe de Estado «não emitiu qualquer ordem ou diretiva ao Departamento de Justiça».
Em maio, Trump chegou a dizer publicamente que se arrependia de ter nomeado Jeff Sessions para o cargo de procurador-geral por este se ter retirado das investigações, o que impediu o presidente de as controlar, e por se ter recusado a demitir Mueller quando Trump lhe pediu, em privado, que o fizesse.