Pareceu o sonho de uma noite de verão mas, ao contrário da peça de teatro, só durou umas horas. De acordo com a manchete e respetivo conteúdo do semanário Expresso, Pedro Duarte é “candidato à liderança do PSD”. Eu imagino que a desilusão seja geral. Quando, finalmente, aquele que teve oportunidades flagrantes para se mostrar nos últimos congressos se predispõe a avançar, não há qualquer congresso ou eleição interna a disputar. A paródia foi essa: Pedro Duarte não é candidato à liderança do PSD – as próximas diretas estão marcadas para janeiro de 2020. Pedro Duarte foi candidato à capa do Expresso em plena silly season.
Segundo o social-democrata, “o PSD deve fazer esse debate” até ao final do ano – ou seja, antes de Rui Rio disputar qualquer ato eleitoral. Do ponto de vista de Pedro Duarte, entende-se. Nas últimas autárquicas, obteve 13% da votação, ficando em 3º lugar como cabeça de lista à Assembleia Municipal do Porto. Atos eleitorais não são, portanto, a sua especialidade nem poderão ser o seu argumento. O problema da sua entrevista não é apenas o timing, mas a lógica.
O ex-secretário de Estado, ex-líder da JSD e ex-deputado clama a sua “disponibilidade” para uma mudança de liderança, mostrando-se, todavia, parco em respostas. O objetivo – “a liderança” – está definido; o meio é que ficou por decidir. “Não perdi um segundo a pensar nos métodos, no processo como isto se possa desenrolar”, admitiu Pedro Duarte, despindo a sua ação de qualquer consequência. À pergunta sobre um eventual congresso extraordinário, a resposta foi evasiva. Nunca um gato virou rato em tão breve corrida. “Como é que força esse debate?”, insistiu o jornalista. “Não pensei nisso”, repetiu Pedro Duarte. Se não pensou, falou para quê?
Alguém que se diz alheio a “calculismo, taticismo e jogadas” não pode cair em incoerências. No congresso de fevereiro, Pedro Duarte disse a Rio para “não perder tempo a dizer mal dos adversários” porque os portugueses perceberiam sozinhos “a falácia da geringonça”. Ao Expresso, o mesmo Pedro Duarte queixa-se agora de Rio “não criticar” diretamente o Governo.
E vai piorando. Para Pedro Duarte, “os militantes pensavam estar a escolher um candidato a primeiro-ministro” e “escolheram um candidato a vice-primeiro-ministro”, o que também não é correto. A proximidade de Rio a Costa é antiga e a possibilidade de uma aliança com o PS para “remover a extrema-esquerda do poder” não é novidade. O tabu do Bloco Central dominou as diretas e Rio avisou logo que deixaria o PS governar caso este tivesse uma maioria relativa, isto é, assumindo previamente a derrota em 2019. Apesar de tudo isso, foi eleito presidente do PSD. Ao contrário, então, do defendido por Pedro Duarte, a estratégia de Rui Rio está mais do que sufragada pelos militantes – por mais errada que possa ser. Eu, já o escrevi, acho a direção de Rio verdadeiramente má. Não esperava que as alternativas fossem piores.