1. A ação do arquiteto inscreve-se no exercício de que modo?
Como profissional liberal por conta própria (em atelier), como empresário de arquitetura ou por conta de outrem (em gabinetes de arquitetura);
Como funcionário público participando (a) na avaliação técnica; (b) no ensino do desenho, da arquitetura, do urbanismo e do design; (c) na pesquisa e investigação; (d) na assessoria a entidades públicas (responsáveis pela regulação, produção legislativa e normativa aplicável a concursos públicos, a associações de diversa ordem ou a ordens profissionais; (e) em consultadorias ou tarefas específicas para entidades governamentais, regionais e municipais;
Como assessor ou consultor de direta ou indiretamente ligadas à atividade;
Como colaborador em diferentes áreas complementares à do exercício da arquitetura, do urbanismo ou do planeamento territorial.
2. Como é olhado e avaliado o papel do arquiteto?
O modo como o arquiteto tem desempenhado as suas funções, quando do exercício de uma prática profissional, tem contribuído para quê?
Os efeitos resultantes da intervenção e ação do arquiteto, expressas nos resultados obtidos, têm-se apresentado aos olhos do cidadão, tanto na qualidade de empreendedor, de promotor, de decisor político ou privado, de governante, como na de simples utilizador ou mesmo beneficiário, como?
Que solicitações são as que hoje se pedem, efetivamente, ao arquiteto? Não sendo as de ‘um ontem’, poderão ser as mesmas de ‘um amanhã’?
A atual formação e educação do arquiteto poderá constituir suporte suficiente para responder a essas solicitações, tanto às de hoje como às desse amanhã?
De que se trata? De produzir arquitetos em número significativo e com uma experiência teórica notável? Ou seria importante procurar formar arquitetos preparados para o exercício da prática profissional, com uma formação suportada não apenas no ‘científico’ mas também, e essencialmente, no ‘humanístico’?
O arquiteto, quando no (e do) seu exercício profissional, tem revelado, ao nível comportamental, uma posição ética inquestionável? Tem sido capaz de procurar colocar-se no lugar e no papel do ‘outro’? A sua intervenção pode ser considerada como insubstituível e útil, de modo a que seja devidamente valorizada?
3. Que papel para o arquiteto de hoje e para o de ‘um amanhã’?
Como deverá ser o ensino da arquitetura e da urbanística de modo a que o arquiteto possa responder às exigências de um processo de desenvolvimento das sociedades de uma forma responsável e útil?
O arquiteto, para ser capaz de responder a essas exigências, não deverá, também, ter que ser urbanista?
Será essa uma condição suficiente para que possa fazer incluir, quando do exercício da sua prática profissional (seja sob que forma for), o entendimento do ‘todo’ em detrimento de uma visão parcial (tão útil para o especialista mas necessariamente redutora), ao procurar equacionar uma determinada realidade?
Será que deste modo a ação e a intervenção do arquiteto urbanista poderá constituir uma mais-valia para encontrar algumas respostas que (tanto por inovadoras como necessárias) os desafios do crescimento e do desenvolvimento territorial e humano têm vindo a apresentar?
Será que, deste modo, o arquiteto se poderá tornar um homem de visão global, agregador de valências e de uma capacidade de síntese, assumindo a conceção dos estudos, planos e projetos e o cargo de coordenação-geral em equipas pluridisciplinares, dando desse modo sentido ao trabalho (entendido como participação e colaboração) dos especialistas?
E qual poderá ou deverá vir a ser, num futuro, o âmbito da sua intervenção?
Será que a ação e a participação do arquiteto poderão ser consideradas, pela sua importância, como imprescindíveis, num processo de procura de resolução de alguns dos problemas com que nos confrontamos?
Eu entendo que sim. Cabe ao arquiteto assumi-lo.
José Miguel Fonseca