O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, voltou hoje mais uma vez à carga para denunciar que o seu país está a ser alvo de um "cerco" e ataques económicos que nada têm a haver com os indicadores económicos do país. E alertou o povo turco para que se prepare para mais ataques. Hoje, a lira caiu 7% face ao dólar.
"Por um lado, querem estar connosco na NATO, mas, por outro lado, tentam esfaquear um dos seus aliados estratégicos pelas costas. É aceitável?", questionou Erdogan num discurso em Ancara perante o corpo diplomático turco, numa alusão ao aumento das tarifas ao aço e alumínio turcos pelos Estados Unidos.
Com a queda da lira em relação ao dólar na ordem dos 20% na sexta-feira, o banco central turco anunciou várias medidas para proteger a sua moeda e que irão "providenciar toda a liquidez que os bancos precisarem". Para tranquilizar os mercados financeiros, o banco central também anunciou a sua disponibilidade para avançar com "todas as medidas que sejam necessárias para manter a estabilidade financeira".
Com a Turquia a caminhar para o abismo financeiro, a independência do banco central turco começou a ser colocada em causa. Ergodan opõe-se – e impede – que o banco central aumente as taxas de juro por defender uma política de dinheiro barato que incente os empréstimos e o investimento. A taxa de juro encontra-se neste momento nos 17,75%, mas há quem diga que as taxas deveriam subir para os 27% para se estancar a crise, segundo o "Guardian".
E os riscos para a economia europeia começaram a ser calculados pelos analistas. "Até agora o impacto da queda da lira tem sido limitada na Europa e no resto do mundo", disse Agathe Demarais, analista na The Economist Intelligence Unit, à AFP. "No entanto, dentro de poucos meses os bancos ocidentais que têm fortes laços com a Turquia poderão sentir o impacto da crise à medida que as empresas turcas se debatam para conseguir pagar as suas dívidas em moedas estrangeiras", explicou.
Com o risco do contágio económico à economia europeia em cima da mesa, por as empresas turcas poderem deixar de conseguir pagar aos bancos europeus os seus empréstimos, a chanceler alemã Angela Merkel veio a terreiro dizer que "ninguém tem interesse em desestabilizar a Turquia". "Tudo deve ser feito para garantir a independência do banco central [turco]", disse Merkel. "A Alemanha gostaria de ver uma Turquia economicamente próspera. Esse é o nosso interesse".
Ao longo de 2018, a lira turca já perdeu 40% do seu valor face ao dólar e a queda poderá não ficar por aqui. "A queda da lira, que começou em maio, mostra agora estar a conduzir a economia turca para uma recessão, e pode accionar uma crise bancária", alertou Andrew Kenningham, analista da Capital Economics, à Bloomberg. "Parece um 'crash', por isso precisam de agir já", complementou Morten Lund, do Nordea Bank AB, de Copenhaga, à Bloomberg. "A lira continuará a cair se não subirem as taxas", garantiu ainda.
Recusando a ideia de a economia turca ter problemas estruturais, o presidente turco aderiu à ideia de existir uma conspiração contra si e o país que governa. Para a combater, o Ministério Público turco avançou com investigações contra quaisquer pessoas que "ameacem a segurança da economia" da Turquia, incluindo "contra todas as notícias escritas e visuais, bem como as contas de redes sociais que foram usadas para alcançar os objetivos deste ataque".
A lira começou a cair na sexta-feira depois de a Turquia ter recusado o ultimato dos Estados Unidos para libertar um pastor norte-americano, Andrew Brunson, com Washington a retaliar com a subida das tarifas sobre o aço (em 20)% e o alumínio (em 50%) turcos.