O artigo Uma Armadilha Fatal, de José António Saraiva, publicado na última edição do SOL, sobre a operação a que foi sujeito em 1968 o presidente do Conselho Oliveira Salazar, continha uma incorrecção.
Eduardo Coelho – meu pai e médico de Salazar desde 1945 até à sua morte – diagnosticou-lhe de imediato, depois dos sintomas graves, um hematoma intracraniano.
Queria que a operação fosse feita por Moradas Ferreira, mas este estava em férias na Madeira. O único neurocirurgião que estava em serviço hospitalar era Vasconcelos Marques, que por isso é chamado por Eduardo Coelho. Mas não aceitou o diagnóstico deste e não aconselhou a operação. O médico assistente, porém, insistiu, e ordenou que se constituísse de imediato uma equipa cirúrgica.
Estava-se no Hospital da Cruz Vermelha, para onde foi levado Salazar. Vasconcelos Marques continuava a não querer operar. Perante a insistência de Eduardo Coelho – e uma enorme discussão, a que assistiram os políticos presentes, que a testemunharam – entendeu-se chamar Almeida Lima, que já não operava. Também este não concordou com o diagnóstico de Eduardo Coelho, mas afirmou: «Se Coelho quer operar, opere-se». Na recusa de Marques, que se retirou para outra sala, foi o chefe de equipa Álvaro de Ataíde que se ofereceu para operar – e o fez com sucesso, confirmando-se o diagnóstico de hematoma.
Isto está relatado no livro Salazar, o Fim e a Morte, publicado em 1.ª edição (1995) pela Dom Quixote, e em 2.ª edição (2015) pela Esfera dos Livros, com prefácio do Prof. Paulo Otero e alguns acrescentos do Autor.
A primeira parte tem a descrição de tudo o que se passou no Diário redigido por Eduardo Coelho, meu Pai, incluindo a recuperação e sobrevivência durante os dois anos seguintes.
A segunda parte escrevi-a eu, pois trata-se do processo judicial, de várias instâncias contra Vasconcelos Marques – pelas mentiras que propagou e propalou, e pelas quais acabaria condenado no Supremo Tribunal de Justiça em 1999.
É esta a verdade.