O restaurante Gambrinus nasceu em 1936, quando o alemão Hans Schwitalla se juntou ao seu genro Claudino Sobral Portela para abrir um novo espaço na baixa lisboeta. A servir refeições desde essa altura, o restaurante das Portas de Santo Antão tem um estilo muito próprio para satisfazer o gosto dos clientes mais exigentes que os sócios traziam na bagagem do mundo da restauração. E se o início avançou a passos largos – rapidamente tornou-se conhecido pelos famosos croquetes do chefe Carlos Oliveira e pelos crepes franceses -, na atualidade não é diferente: a primeira e única remodelação que deu vida ao Gambrinus que se conhece hoje transformou-o numa casa de luxo e num ícone de grande referência no centro de Lisboa. E já é «reconhecido internacionalmente, por uma elite muito específica», afirma Aurélio José Pereira, chefe de sala há 46 anos.
Reis, príncipes, Presidentes, ministros e figuras públicas do desporto ou da televisão, «por norma passa tudo pelo Gambrinus», garante Aurélio. Na maioria das vezes vêm no anonimato, porque o restaurante não fecha para jantares oficiais.
Mas a história não se faz apenas pelos nomes. Apesar de ser uma tradição abolida, o Gambrinus teve durante muito tempo na sua decoração os cravos, que hoje são substituídos por flores da época. Sempre foram verdadeiros e por vezes havia clientes que mandavam tirar da mesa.
O espaço
As duas salas para refeições mais longas e o balcão, onde os clientes podem degustar de uma comida mais ligeira – o Fora D’horas como lhe chamam -, foi desenhados e decorados pelo arquiteto Maurício Vasconcelos. Desde a madeira, que reveste as paredes e o balcão, às cadeiras, com o emblema do restaurante cravado no couro, e toda a decoração das salas, todos os elementos que tornem o espaço único.
A Sala Pequena – atual sala de fumadores – tem capacidade para 30 pessoas. Está equipada com um fogão à moda antiga, onde são confecionados os famosos crepes suzette em frente aos clientes. Este recanto da casa tem a fama de acolher artistas do cinema, da arquitetura e da música, conta Aurélio Pereira. Por outro lado, num espaço maior, e tal como o nome indica – a Sala Grande -, há 54 cadeiras e o chefe da sala afirma que não há cliente que não se deixe «deslumbrar com a tapeçaria de Sá Nogueira e a gigante lareira esculpida na pedra». Mas será que o sucesso passa apenas por receber clientes célebres e pelas obras de artes? Aurélio Pereira garante que aquilo que o cliente vê é «cerca de 30% do Gambrinus». Sendo os restantes 70% «back office», explica.
Os segredos
São cerca de 50 funcionários que fazem o sucesso do restaurante. O chefe de mesa afirma que o «serviço é muito forte antes de qualquer prato chegar à mesa» e a prova disso é que o Gambrinus tem três prédios só para abastecer o restaurante – os tais 70% que ninguém vê.
Apesar de todas as receitas estarem ao cuidado do chefe Oliveira, os fornecedores são outro dos tuques que têm na manga: o marisco vem diretamente da Lourinhã e garentem que «é sempre fresco». Já no que diz respeito ao peixe, esse vem de mais perto: da família da conhecida peixeira Maria Açucena Amorim (Mercado 31 de Janeiro) e da Conceição Amelina (Mercado da Ribeira).
O Gambrinus não interrompe o serviço a meio da tarde. Está sempre preparado para servir uma refeição fora dos horários normais e os jantares começam às 18h, «porque há muitos estrangeiros que gostam de comer cedo».
Mas, afinal, quais são os pratos mais conhecidos? O restaurante é conhecido por um dos melhores pregos da cidade. É também bastante procurado pelos croquetes, pelo empadão de perdiz, por uma sopa rica de peixes ou por um prato alemão: eisbein com choucroute.
No que diz respeito a sobremesas, «é impossível vir a ao Gambrinus e não se ver fazer ou comer o crepe suzette», confessa Aurélio Pereira. Conhecido a nível mundial, o crepe é feito em frente aos clientes, à base de três tipos de licores – dois franceses e um português -, vinho, manteiga, raspas de laranja e açúcar.
O Gambrinus está aberto todos os dias do ano do meio dia à 1h da manhã, com a exceção do feriado do dia 1 de maio – decidiram fechar no primeio 1 de maio a seguir ao 25 de abril e desde então têm mantido a tradição.
Os dias mais concorridos são 24, 25 e 31 de dezembro e o primeiro dia de cada ano: «Normalmente as reservas [para estes dias] esgotam um mês antes». Nos dias úteis, «por norma também têm que reservar, embora ao almoço seja mais fácil do que no jantar».
Gambrinus
Rua das Portas de Santo Antão,
Lisboa
Aberto desde 1936
Especialidades: marisco e peixe