O cinema para a América política se ver ao espelho. Michael Moore tem usado os filmes como gatilho crítico. Atacou o mundo das armas (“Bowling for Columbine”) o capitalismo (“Capitalismo — Uma História de Amor”), o sistema de saúde (“Sicko”) e as invasões americanas (“E Agora Invadimos o Quê?”); fulanizou George W. Bush e as contradições do ataque ao Iraque em “Fahrenheit 9/11”, documentário vencedor da Palma de Ouro no festival de cinema de Cannes em 2004.
E agora inverte a ordem numeral para apontar a mira a Donald Trump em “Fahrenheit 11/9”, documentário sobre os primeiros tempos da presidência de “The Donald”. “Já não consegue aguentar mais a insanidade? Então este filme é para si”, adverte o primeiro trailer do filme a estrear a 21 de setembro – a estreia em Portugal ainda aguarda por data. A primeira exibição está marcada para o Festival de Cinema de Toronto, entre 6 e 16 de setembro.
“Como raio é que isto [a eleição] aconteceu?”, “o sonho americano morreu” e “senhoras e senhores, o último presidente dos Estados Unidos da América” são frases sonantes dos dois minutos de filme compilados.
Em 2016, Michael Moore já tinha apresentado um monológo quase integral de stand-up pró-Hillary na Broadway sobre a desfaçatez de Donald Trump. O início da peça serve de rastilho ao trailer: “Como raio é que isto aconteceu?”, é uma espécie de questão existencial sobre a América de hoje e dos próximos tempos. E agora, como iremos sair daqui é o ponto de interrogação seguinte à pergunta inaugural.
O realizador relaciona Trump com as principais tensões da sociedade americana, como as manifestações de supremacistas brancos, o racismo crescente em manifestações públicas, o crescimento exponecial da violência e os extremismos.
Moore fala com sobreviventes do tiroteio de 14 de fevereiro no liceu Stoneman Douglas em Parkland, Califórnia, que resultou na morte de 17 estudantes e funcionários, e surge a atirar água para o interior da casa de um governador republicano, em Flint, Michigan. A ativista do partido democrata Alexandria Ocasio-Cortez surge no trailer, e é recordado um excerto do emblemático discurso “Bodies upon the gear” do ativista dos anos 60, Mario Savio.
Sem revelar demasiado, sabe-se que o filme se centra na investigação conduzida contra Trump pelo próprio Departamento de Justiça. O Presidente é acusado de conspiração com a Rússia na vitória eleitoral sobre Hillary Clinton. Moore admitiu que a estreia foi planeada para anteceder as eleições legislativas de novembro e incitar milhões de americanos a correr às urnas.
Em entrevista ao Huffington Post, Moore depositou esperanças na capacidade de “Fahrenheit 11/9” abanar a consciência americana, usando o exemplo do antecessor “Fahrenheit 9/11”. “Foi número um em todos os estados democráticos da América”, lembrou. “Foi um êxitos em cidades e bases militares. O meu coro é o povo americano. A velha guarda do do Partido Democrático não conseguiu falar para essas pessoas. Foi dar-lhes, ao menos, uma música que possam cantar”, afirmou.