Ponte Morandi. Testemunhos dos sobreviventes

Os sobreviventes do desabamento da ponte Morandi tão depressa não vão esquecer a experiência dramática

Entre as fotografias da tragédia, há uma imagem que chama a atenção: um camião verde ficou à beira do abismo. O condutor viu a ponte cair, mesmo à sua frente. A chuva intensa que se abatia em Génova na terça-feira obrigou-o a diminuir a velocidade e foi isso que o salvou.

«Um carro tinha acabado de me ultrapassar pouco depois de entrar no viaduto. Estava a chover muito e não era possível ir depressa. A visibilidade era nula, parecia um dilúvio», relata o homem de 37 anos ao jornal italiano Corriere della Sera.

O motorista recorda que «de um momento para o outro, tudo se desmoronou». «O carro à minha frente desapareceu, parecia estar envolto nas nuvens. Olhei para cima e vi o pilar da ponte a cair», conta o homem que prefere não ser identificado.

Perante o cenário, travou a fundo e ficou a cerca de 10 metros do abismo. «Instintivamente, quando encontrei o vazio pela frente, engrenei a marcha atrás como se tentasse escapar daquele inferno», desabafa.

Depois disso, saltou do camião e fugiu a pé. «Percebi que tudo se tinha desmoronado e que tinha de escapar. A chuva era terrível e avisei os outros condutores para fugir», recorda o motorista, ainda «em choque». 

Outro dos sobreviventes, Gianluca Ardini, de 29 anos, ficou suspenso nos destroços dentro do carro. «Ele diz que só se lembra dos bombeiros a dizerem-lhe para não se mexer porque estava a 20 metros do chão», contou a namorada, Giulia Organo.

O companheiro de viagem de Gianluca, Luigi Matti Altadonna, de 35 anos, que seguia no lugar do pendura, não sobreviveu ao desastre.

Já Luciano Goccia não estava no tabuleiro da ponte quando o desastre aconteceu, estava num parque de estacionamento por baixo da estrutura. «Tinha acabado de chegar. Abri a porta da carrinha para sair e ouvi o barulho. Quando me virei, fui projetado no ar, bati numa parede e fiquei sem fôlego», conta à Reuters. Foi exatamente a onda de choque que acabou por o salvar de morrer esmagado debaixo dos pedaços da ponte que caíram, como o estado dos destroços da carrinha atestam.

Também Marina Guagliata, 58 anos, e a filha Camilla, de 24, não estavam na ponte, mas sim num dos edifícios por baixo da estrutura. Depois do acidente, ficaram as duas presas debaixo dos destroços do apartamento. «Senti que [a minha filha] estava debaixo dos destroços, mas perto de mim. Comecei a remover as pedras que estavam em cima da cara e boca dela e depois perdi a consciência», disse. 

Mãe e filha foram encontradas de mãos dadas pelas equipas de salvamento. «Não me lembro de quase nada do momento em que tudo colapsou. Só agora, dois dias depois, é que me começo a lembrar do que aconteceu», conta Marina.

A mulher de 58 anos não teve ferimentos graves, mas a filha continua internada num hospital em Génova.