Indra Nooyi prepara-se para deixar de ser CEO da Pepsi. Ao fim de 12 anos no cargo, deixa o lugar a Ramon Laguarta, que tomará posse em outubro. Com 62 anos, continuará a ser, no entanto, chairman do conselho de administração até ao início de 2019 porque pretende garantir «uma transição suave».
«Tive tempos maravilhosos no papel de CEO, mas chega a um ponto em que dizes que é um ato responsável preparar uma transição ordeira e deixar alguém tomar a liderança», avançou Nooyi, acrescentando que um CEO deve ter «pernas fortes» para aguentar a corrida, que, no seu caso, já foi longa. «Quero outra pessoa com pernas fortes e uma visão aguçada para liderar esta empresa», revelou.
E não é difícil perceber os motivos que levam Indra a falar tanto sobre a necessidade de se ser forte, até porque é, para muitos, o exemplo perfeito do que custa subir a pulso. Indra Nooyi foi a primeira mulher e também a primeira estrangeira a liderar a empresa, onde já está há 24 anos.
Enquanto esteve nos comandos conseguiu fazer com que as ações Pepsi chegassem a valorizar 78%. O trabalho de Indra Nooyi fez ainda com que os resultados da empresa aumentassem em todas as frentes e foi assim que acabou por entrar na lista das mulheres mais poderosas do mundo. No último ranking da revista norte-americana Fortune, aparecia em segundo lugar na lista dos nomes com mais influência.
Ainda que os resultados tenham começado a cair, com a empresa a perder receitas, Indra será sempre a cara do sucesso da empresa – e mesmo numa altura em que já se assistia a uma tendência de queda no consumo de refrigerantes, a Pepsi conseguiu aumentar as vendas em 80%. De acordo com a Bloomberg, a receita do sucesso encontrada por Indra Nooyi passou por diversificar os produtos. A empresa começou um caminho na produção de ofertas mais saudáveis para poder entrar na corrida do mercado de produtos biológicos.
Aposta na formação
Nascida na Índia em 1955, Indra só chegou aos Estados Unidos em 1978, quando entrou na Universidade de Yale. Entraria na Pepsi em 1994, depois de ter passado por empresas como a Johnson&Johnson e a Motorola. «Embora eu seja uma filha da Índia, sou uma mulher de negócios norte-americana», disse, em tempos, a CEO. No entanto, nem sempre pensou assim. «Ao crescer na Índia nunca imaginei que teria a oportunidade de liderar uma empresa tão extraordinária», assegura, até porque, em 2006, quando chegou ao cargo de CEO da Pepsi, poucas mulheres lideravam empresas nos EUA. Aliás, atualmente, continua a ser mais raro do que muitos gostariam. De acordo com a Bloomberg, na lista Fortune 500, que reúne as 500 maiores empresas norte-americanas, aparecem apenas 24 mulheres.
Entre as mensagens que tem tentado fazer passar ao longo dos anos está exatamente a necessidade de mudar o paradigma. Hoje, Indra é um exemplo de sucesso. Mas não foi sempre assim. «Quando vim para os EUA sabia que era aqui que podia crescer. Na Índia, as oportunidades não eram as mesmas. Mas também sabia que precisava de preservar a mentalidade de imigrante. Tinha de ter sempre em mente que podemos ficar sem trabalho de um momento para o outro. Assim, temos a noção de que é preciso lutar por ele todos os dias. Quem não é de cá sabe que pode perder tudo de um dia para o outro. Não há rede de segurança», assegura, acrescentando que ter esta base fez com que o caminho fosse duro, mas também lhe permitiu nunca perder o foco.
Durante algum tempo, enquanto estudava e dava os primeiros passos numa empresa de gestão, Indra trabalhou como rececionista. Era neste trabalho que encontrava a solução que lhe permitia aguentar as contas até ao final do mês.
A história de Indra tem servido de inspiração para quem a conhece e é também por isso que a CEO da Pepsi pretende fazer do futuro um lugar para ajudar, ensinar e incentivar outras mulheres a ocupar cargos de topo. Recentemente, numa entrevista, Indra explicou que há poucas mulheres na liderança das empresas porque é difícil conseguirem equilibrar a vida pessoal com a profissional: «Acho que é preciso ver que existem muitas mulheres nos cargos de entrada. E elas até chegam às posições intermédias, mas isto acontece normalmente quando estão também na idade de ter filhos. É aqui que muitas vezes se perdem. Ficam pelo caminho porque não é fácil liderar, ter filhos, gerir um casamento, entre outros aspetos da vida».
Numa conferência, em Nova Iorque, sobre a Liderança no Feminino, a CEO recordou o dia em que a filha, na altura com quatro anos, lhe enviou um recado a pedir que ela regressasse a casa porque tinha saudades. «Ela dizia que me amava e que tinha muitas saudades minhas. Como podem ver, não posso dizer que não senti grandes dores. Mas posso dizer que nunca me arrependi das decisões que tomei».
A preocupação de Nooyi sempre foi conseguiu conciliar a vida pessoal com a carreira e, por isso, chegou ainda a ser distinguida por ter sido a pessoa responsável pela ideia de criar um espaço para os filhos dos colaboradores da Pepsi.