Silves foi um dos três concelhos do distrito de Faro afectados pelo fogo do Algarve, além de Monchique e Portimão.
Apesar de Rosa Palma, a presidente da Câmara Municipal de Silves, nas várias declarações que fez à comunicação social, não conseguir prever para que zona o fogo progrediria, referiu sempre que foram feitos todos os esforços, em articulação com a Protecção Civil, para haver uma adaptação «a cada situação nova que possa surgir, para tentar minimizar o impacto do fogo». Sublinhou que a autarquia criou faixas de proteção de incêndios, limpou terrenos e estradas, e isso minimizou a propagação dos mesmos.
Porém, enquanto residente e conhecedora da orografia do concelho, não vejo a demonstração factual dessa afirmação. Tais actos não levaram à diminuição dos incêndios. Aliás, há na zona proprietários que, em cumprimento escrupuloso da legislação, procederam à limpeza dos seus terrenos – sendo que alguns deles não o faziam há anos – mas tal não impediu a propagação do fogo por montes e vales, chegando a passar a EN124, que liga São Bartolomeu de Messines a Silves.
Perante isto, todos nos questionamos: qual a filosofia do combate? Atacar directamente o fogo ou deixar que destrua árvores, casas, animais? Precaver e auxiliar as populações que por estas aldeias vão impedindo que as labaredas engulam os seus bens ou militarmente dar ordem de evacuação, em situações de fácil controlo?
A presidente da autarquia silvense apelou a todas as pessoas para que seguissem as ordens das forças de segurança e que cumprissem a ordem de retirada, já que as autoridades protegeriam o seu património. Será? Não foi isso que se viu no concelho de Monchique. Os moradores que resistiram à ordem da GNR e escaparam das algemas conseguiram salvar os seus bens.
Patrícia Gaspar, da Protecção Civil, afirmou tratar-se de «um momento de grande stresse para as pessoas», mas que a prioridade sempre foi salvaguardar vidas humanas. Pergunto: a que custo e com que organização? A espalhar o pânico, como foi feito (situação que eu testemunhei) nas aldeias de Cumeada, Corgo e Mogas, sitas na freguesia de São Bartolomeu de Messines? Ou o objectivo é só para cumprir estatísticas?
O primeiro-ministro decidiu a dada altura dar um ar de sua graça e, de viva voz, numa reunião com os autarcas da região, referiu que «não devemos ter a ilusão de que este incêndio vai ser extinto nas próximas horas», pois «a vela de um bolo de aniversário todos apagamos com um sopro».
Porém, enquanto os dirigentes discursavam, as populações viviam momentos de aflição e desorientação, umas a serem evacuadas à força dos locais onde vivem, outras a molharem telhados, janelas e portas, porque a indicação da GNR era de que, caso o fogo aparecesse, não havia bombeiros em todas as aldeias para o apagarem. Será porque os bombeiros esperavam horas por ordens do comando nacional?
No dia 10 de Agosto, em Silves, o ministro da Administração Interna, em conjunto com os sorridentes presidentes das Câmaras de Monchique e Silves, decidiu passear-se pelos locais onde pessoas choram a perda dos seus pertences, para lhes dar uma «palavrinha» de alento e dizer que foi uma vitória o combate ao incêndio. Vitória? Para quem? Para as pessoas que tiveram perdas totais não foi certamente. Para desmotivar as pessoas do interior a viverem lá e a investirem na agricultura, no mel, no medronho, no turismo rural, foi de certeza absoluta.
Perante tanta aberração, é urgente que se assumam os erros e se demitam pessoas! Sim! Porque eu e a maioria dos portugueses precisamos de respostas. Precisamos de saber o que falhou. Precisamos de saber por que não se aproveitam as pessoas que, com boa destreza motora, não ficaram nos locais de habitação para os proteger e até auxiliar os bombeiros que, de corporações de fora do Algarve, desconheciam os caminhos.
Onde estão as vozes do BE e do PCP? Forças políticas que se dizem defensoras dos direitos do povo! Por que não exigem que se apurem responsabilidades? Por que não solicitam a saída de ministros? Será que procederiam da mesma forma se fosse um Governo de direita? Tenho a certeza que não.