‘A cremação é uma tendência crescente em Portugal’

Especialistas dizem que os portugueses optam cada vez mais por cremar o corpo, em detrimento do tradicional enterro

Com as melhorias das condições de vida e com a esperança média de vida sempre a aumentar é raro falar-se sobre morte. No entanto, em algum momento da vida somos obrigados a lidar com a perda de um ente querido e na forma como o queremos honrar. 

Tradicionalmente as cerimónias fúnebres são conhecidas por envolverem um caixão e uma sepultura no cemitério, mas os tempos estão a mudar e a ideia de enterrar o corpo tem vindo a perder força entre as escolhas dos portugueses.

Paulo Carreira, diretor geral de negócio da Servilusa, contou ao SOL, que cada vez mais os portugueses optam por cremar o corpo. «Há 10 anos a taxa de cremação rondava os 2%, hoje situa-se nos 18%. A cremação é uma tendência crescente em Portugal», referiu. Hoje em dia, isto acontece por causa da «questão cultural da vivência da morte e do ritual ligado ao cemitério», acrescentou, realçando que o facto de a cremação ser uma «solução mais definitiva, que não obriga a decisões futuras sobre o que fazer com os restos mortais», é um dos motivos para que haja uma maior «preferência pela cremação».

Carlos Almeida, da Associação Nacional de Empresas Lutuosas (ANEL), também concorda: «Na área metropolitana de Lisboa temos uma taxa de cremação de 53%» e, portanto «já há mais preferência de cremação do que enterros».

A escolha de cremar o corpo tem aumentado exponencialmente, provocando uma espécie de ‘fila de espera’ nos crematórios. Segundo o responsável da Servilusa, tendo em conta uma consulta feita no dia 10 de agosto «aos crematórios da área de Lisboa, para algumas alternativas como a Póvoa de Sª Iria, Rio de Mouro ou Cascais, com horários alargados, seria possível agendar a cremação para o dia seguinte».

Outras escolhas para além da Cremação 

Caso o morto não tenha deixado escrito em testamento o que quer que seja feito com o seu corpo, existem mais duas opções, para além da cremação, «o enterramento dito normal ou a deposição em jazigo», explicou o responsável da ANEL. Quanto a quem decide o que será feito, Paulo Carreira diz que a lei é específica e que a ordem vai desde a pessoa mais próxima à mais afastada: «Quem tem legitimidade para requerer o funeral é o testamenteiro em cumprimento de disposição testamentária, o cônjuge sobrevivo ou a pessoa que vivia com o falecido em condições análogas, qualquer herdeiro, qualquer familiar ou, em última instância, qualquer pessoa ou entidade».

O que fazer com as cinzas

Não existe «nenhuma lei específica» que diga o que as pessoas devem ou não fazer com as cinzas, explicou o responsável da ANEL ao SOL. «Em território nacional as cinzas circulam livremente», adiantou. 

A decisão cabe à família, explicou Paulo Carreira, e esta pode colocar as cinzas «onde entender, devendo, no entanto, respeitar a propriedade do espaço onde as vai colocar».

As ideias são muitas e há quem goste de ser um pouco mais criativo e inovador. Lançar as cinzas ao mar dentro de uma urna biodegradável, plantar uma árvore juntamente com as cinzas, colocar uma porção num colar, ter a urna no cemitério ou em casa são algumas das opções. 

Quanto às escolhas mais comuns, Carlos Almeida diz que não existem dados específicos sobre isso, mas que as pessoas normalmente optam por as depositar no mar e hoje em dia já há «vários romantismos no que toca a isso». Paulo Carreira referiu ao SOL que há quem opte por colocar as cinzas num jardim ou dentro do cemitério, «a partilha em pequenas urnas também é uma solução pedida frequentemente, bem como a colocação de uma porção nem relicário, num estojo ou colar».

O número de crematórios em Portugal tem vindo a aumentar. O primeiro abriu em 1925, no Alto de São João, em Lisboa. Mas de acordo com a ANEL, foi encerrado em 1936, tendo voltado ao ativo em 1985. Até 2002, só existiam três crematórios em todo o país – Alto de São João, Prado do Repouso, no Porto, e o do Cemitério Municipal de Ferreira do Alentejo. Atualmente existem cerca de 26 crematórios em todo o país: 23 em Portugal Continental e três nas ilhas. 

Carlos Almeida acredita que este número vai continuar a subir. No entanto, sublinha que este crescimento não vai levar à extinção dos cemitérios. «Portugal não corre esse perigo», até porque no país existem cerca de cinco mil cemitérios, explicou. Paulo Carreira também não acredita que o fim dos cemitérios seja uma opção: «Teremos sempre estas duas opções, ou outras que irão surgir, mas que não eliminar o cemitério».

 

* Nota ao leitor: O crematório da Lapa localiza-se no porto e não em Lisboa como mostrado na infografia