“É um momento extraordinário para Lisboa” aquele em que a cidade recebe pela primeira vez a Operália, um concurso de novos intérpretes com a prerrogativa que o nome indica, a ópera, 25 anos depois da sua fundação. “Uma feliz coincidência”, refere o fundador, depois de passagens por cidades tão influentes como Tóquio, Milão, Moscovo, Los Angeles, Cidade do México, Londres ou Madrid.
Quarenta cantores serão ouvidos por um júri de prestígio, entre os quais Jonathan Friend (Administador Artístico da Metropolitan Opera House em Nova Iorque), Peter Katona (Director de Casting da Royal Opera House em Londres), Joan Matabosch (Director Artístico do Teatro Real em Madrid) e Patrick Dickie (Diretor Artístico do Teatro Nacional de São Carlos) – a quem espera “muito trabalho”, garantiu Plácido Domingo, que preside como moderador não votante – na conferência de imprensa de apresentação.
É um tempo de abundância de vozes, este, em que “de todos os cantos do mundo podem chegar os vencedores”, observou o tenor, destacando o baixo-barítono da África do Sul Simon Shibambu. “Ele nem sequer vivia em Joanesburgo”, recordou. O concorrente licenciou-se pelo Royal College of Music de Londres, depois de ter ingressado num programa formativo na Royal Opera House em Covent Garden, na capital inglesa. Entre os quarenta candidatos, há dois portugueses: a soprano Rita Marques, com escola no Centre Perfeccionament Plácido Domingo, em Valência, e o tenor Luís Gomes, com formação no Conservatório e na Escola Superior de Música, e uma residência na Royal Opera House de Londres no currículo. No total, 24 países estão representados com predominância para os estados pós-soviéticos.
O júri presidido por Placido Domingo procura a “combinação entre vozes e personalidades” mas reconhece múltiplos fatores em equação. “Há cantores prontos para cantar imediatamente nas grandes salas”, refere. “Noutros detetamos o talento” que será posteriormente burilado, explica.
Para Plácido Domingo, os cantores devem ter consciência que “são privilegiados” por viverem num tempo de “oportunidades” com “muitas mais orquestras“ um pouco “por todo lado”e ainda serem “pagos”. “No meu tempo, ainda tínhamos que pagar aos professores”, recorda, não perdendo a oportunidade para elogiar os “novos artistas” por serem “muito mais organizados”.
Em contrapartida, “o público é muito mais exigente”, aponta, numa era em que se pede mais espetacularidade. “Toda a gente pode ter acesso a tudo através do Facebook e do Instagram (…) Posso estar em Viena ou em Londres e qualquer pessoa vê [o espetáculo]”, nota. E continua a ser “uma carreira muito difícil”, reconhece, sobretudo para as mulheres “porque têm filhos” e são forçadas a parar durante um ano para dar vida.
O vencedor será conhecido no domingo no palco do Teatro São Carlos onde Plácido Domingo se apresentou pela última vez “há mais de vinte anos” para cantar “Otello” de Verdi – no ano passado, quase lotou o MEO Arena. Apenas uma dezena de concorrentes tem lugar entre os finalistas, apurados de uma meia-final de vinte.
Ganhar é receber um bilhete dourado para a elite da ópera, já que é comum os jurados e programadores culturais das grandes salas metropolitanas convidarem os cantores a participar em produções das temporadas seguintes. A superestrela dos tenores assume também ele o compromisso de seguir de perto a evolução da carreira dos concorrentes. “Tenho um grande carinho pelos novos cantores”, assume.
À teoria do envelhecimento da ópera, Plácido Domingo responde convicto: “não é verdade”, usando como exemplo um concerto recente em Madrid em que observa uma vintena de espetadores na casa dos quarenta anos. “Não podemos viver sem música” e a ópera é “uma pequena parte” da banda sonora do planeta que inclui o ruído. “A música é para sempre e a ópera é para sempre”, conclui.
E se o convidassem a vir para Lisboa como Madonna, pergunta um jornalista. “E porque não?”