"A palavra patriotismo foi-nos roubada por nacionalistas e extremistas", começa por escrever o cantor, onde considera que "os verdadeiros patriotas procuram a união acima da homogeneidade", sublinhando que este deve ser "o verdadeiro projeto europeu". Além disso, Bono deixa ainda uma questão a todos os leitores: “Poderemos colocar os nossos corações nesta luta?”.
Para o artista, os valores e as aspirações da Europa fazem desta muito mais do que apenas uma geografia, e considera que esta ideia de Europa "merece canções escritas sobre ela, e grandes bandeiras azuis e brilhantes acenadas", escreve o cantor no seu texto, ao mesmo passo que assume que esta sua afirmação vem de uma ideia “provocadora” que os U2 tiveram para a sua próxima digressão, que começa já esta semana em Berlim, na Alemanha.
"Disseram-me que uma banda de rock está no seu melhor quando é um pouco transgressora: quando estica os limites do chamado bom gosto, quando choca, quando surpreende", continua a escrever, revelando ainda que a banda pretende, durante o concerto, agitar uma bandeira da União Europeia (UE): "grande, brilhante e azul".
"Imagino que mesmo para um público de rock, agitar uma bandeira da UE nos dias de hoje é um aborrecimento, uma chatice, uma referência kitsch ao Festival da Eurovisão, mas para alguns de nós tornou-se um ato radical", escreve Bono.
No mesmo texto, o artista faz questão de lembrar que a mesma Europa – que durante muito tempo provocava um bocejo – "hoje desencadeia uma disputa de gritos na mesa da cozinha", uma vez que é um palco de forças poderosas e emocionais.
"Não há como negar que estamos todos juntos neste barco, em mares agitados pelo clima extremo e pela política extremista", escreve.
O vocalista dos U2 fala também no seu texto sobre a questão dos refugiados e garante que se sente orgulhoso do que tem sido feito e que "os alemães receberam refugiados sírios assustados. Orgulhoso da luta da Europa para acabar com a pobreza extrema e as alterações climáticas; e, sim, extraordinariamente orgulhoso do acordo de Belfast e de como outros países se uniram à Irlanda na questão das fronteiras, reavivada pelo Brexit", lê-se.
"Sinto-me privilegiado por ter testemunhado o maior período de paz e prosperidade de todos os tempos no continente europeu", acrescentou o cantor.
Mas, apesar de todas as conquistas, Bono deixa um alerta: "Estão a ser ameaçadas, porque o respeito pela diversidade – premissa de todo o sistema europeu – está a ser desafiado", diz, acrescentando que "a diferença é da essência da humanidade, e deve ser respeitada, celebrada e até mesmo cultivada".
"Adoro as nossas diferenças: os nossos dialetos, as nossas tradições, as nossas peculiaridades, 'a essência da humanidade', como definiu Hume. E acredito que eles ainda deixam espaço para o que Churchill apelidou de 'um patriotismo ampliado': alianças plurais, identidades em camadas, irlandeses e europeus, alemães e europeus, e não uma coisa ou outra", termina o artista, indicando que "para prevalecer nestes tempos conturbados, a Europa é um pensamento que precisa de se tornar um sentimento".
Leia aqui (em alemão) o texto publicado originalmente