“O acordo nuclear é um meio, não o objetivo, e se chegarmos à conclusão de que não serve os nossos interesses nacionais, podemos abandoná-lo”. O aviso foi dado ontem pelo líder supremo iraniano, o aiatola Ali Khamenei, durante uma reunião com o presidente iraniano, Hassan Rohani, e o seu governo.
E se o acordo nuclear tem sido mantido pelas potências europeias e a China depois do abandono dos EUA, Khamenei disse a Rohani para não depositar grandes expectativas na Europa. “Não há qualquer problema em negociar e manter o contacto com os europeus, mas deve abandonar as esperanças neles depositadas em assuntos económicos e no acordo nuclear”, afirmou o líder supremo iraniano. E, sobre Washington, as palavras não permitem dúvidas de que descarta futuras negociações. “[Os americanos] querem dizer que podem trazer toda a gente, mesmo a República Islâmica, para a mesa de negociações. Mas, tal como já disse antes pormenorizadamente, não haverá novas negociações com eles”.
A intervenção de Khamenei ocorre num momento em que o governo de Rohani se encontra sob forte pressão pelo parlamento por a situação económica do país não estar a melhorar, ao contrário do que Rohani prometeu aquando da assinatura do acordo nuclear com os EUA, Reino Unido, Alemanha, Rússia, França e China em 2015.
Na terça-feira, o presidente iraniano foi chamado ao parlamento para explicar a degradação da situação económica no país, com os deputados a votarem pela rejeição das explicações de Rohani – algo inédito desde que assumiu o cargo, em 2013. E se não bastasse, acentuando a fragilização política do presidente, o parlamento tinha, horas antes, votado pelo afastamento do ministro das Finanças, Masoud Karbasian, com os ânimos na sala quase a passarem das palavras para as agressões. Ontem, Ontem, deputados iranianos avançaram ainda com o procedimento de destituição do ministro da Educação, por ter falhado na reforma do sistema educativo.
Rohani apostou muito do seu capital político no acordo nuclear, mas três anos depois este parece não ter sido benéfico o suficiente para estabilizar a economia nacional. O desemprego não tem parado de aumentar, encontrando-se hoje nos 12% no geral e nos 25% entre a população jovem – 60% dos 80 milhões de iranianos tem menos de 30 anos. A moeda iraniana, o rial, perdeu mais de dois terços do seu valor num ano. O investimento estrangeiro ficou aquém do previsto e as sanções impostas pelos Estados Unidos vieram contribuir para que empresas internacionais não investissem na economia iraniana por receio de retaliações norte-americanas e a Casa Branca prevê intensificar as sanções em novembro.
À crescente degradação da situação económica junta-se ainda a vontade de Washington em reduzir ao mínimo as exportações petrolíferas iranianas, principal motor da economia. Um desejo que já levou o general Alireza Tangsiri, dos Guardas Revolucionários, a sugerir que Teerão poderá bloquear o Estreito de Ormuz se continuarem as pressões e ameaças à sua segurança nacional.