As crianças de hoje estão mais exigentes e mostram-se cada vez menos satisfeitas. A exigência podia ser uma característica positiva, se fosse sinónimo de se superarem ou de procurarem melhores alternativas, mas não é o que acontece. A exigência é sempre em relação aos outros e não perante elas próprias e vem de um sentimento de insatisfação e insaciabilidade.
Não houve situação em que tivesse maior clareza disto do que quando saí do cinema com os meus filhos e um deles – o mais exigente de todos – perguntou o que íamos fazer a seguir. À porta da sala já estavam preparadas para crianças como ele uma série de atrações como matraquilhos e outras máquinas que a troco de um euro dão coisas inúteis e de má qualidade que não queremos em casa mas que aliciam os mais pequenos.
Não me lembro de ter ido alguma vez ao cinema com a idade dele e imagino que se o tivesse feito o entusiasmo me ocuparia uma série de dias. Um acontecimento que hoje é normal, como ir a um parque infantil, para mim era uma festa que guardo com carinho. A oferta é cada vez maior. Porque a procura dos pais o exige. Já não é normal estar em casa sem fazer nada. As crianças raramente se ocupam sozinhas. É necessário enchê-las de atividades. Quando estas não existem os infantes ficam enfadados e sem saber o que fazer. Poucas coisas são vividas demoradamente e não há espaço para o pensamento e para a imaginação. Tudo acontece no agir.
Antigamente os mais novos ocupavam o segundo plano na família. As decisões eram tomadas pelos pais e as crianças adaptavam-se. Às vezes lá vinha um dia em que tinham mais sorte. Atualmente é o contrário. Em várias casas os fins-de-semana são feitos para as crianças, e os pais adaptam-se. Se antes eram quase esquecidas, agora passaram para o extremo oposto. Caindo novamente no exagero. O mesmo se pode dizer dos brinquedos. Nós, adultos de hoje, lembramo-nos de quase todos os brinquedos que tínhamos e de como eram especiais. É verdade que não há nada melhor do que oferecer um presente a uma criança e poder assistir à sua reação de felicidade, e o facto de se terem tornado tão acessíveis ajuda a que isto aconteça com alguma facilidade. Mas se visitarmos a mesma criança passados poucos dias será difícil vê-la com esse brinquedo – com sorte estará fechado numa arca com muitos outros e na pior partiu-se e foi para o lixo passados uns minutos de o ter recebido.
A intenção dos pais é só uma: fazer os filhos felizes, de preferência mais do que eles próprios foram. É fácil cair na tentação de querer fazer das suas as crianças mais felizes do mundo. Mas talvez não o estejamos a fazer da melhor forma. Quanto mais recebem mais querem receber. Quanto mais têm menos gratas ficam. E mais grave do que tudo, nada é verdadeiramente especial nem suficiente e por isso poucas coisas perduram, porque não são estimadas. Nem vivências, nem objetos. Nada permanece e fica o vazio. Como acontece muitas vezes com os brinquedos que vêm nos menus infantis: a curiosidade e alegria que têm ao vê-lo é proporcional ao pouco valor que lhe dão e à nossa vontade