Ainda me lembro das brutais edições de 1989 e 1990 do Open da Austrália, com as temperaturas junto ao solo dos hardcourts a superarem os 50 graus Celsius, numa época em que os organizadores ainda recusavam fechar o teto da Rod Laver Arena por calor e só o faziam devido à chuva.
Mesmo jogadores extremamente bem preparados fisicamente como Thomas Muster sofreram golpes de calor; Ivan Lendl inovou com o chapéu à legionário para proteger a nuca; e o médico da Federação Francesa de Ténis explicou que alguns jogadores perderam cinco quilos por encontro, sendo fundamental repor líquidos e sais.
Quando fui ao Open da Austrália, em 2001, só se falava do buraco de ozono, um dos patrocinadores distribuída gratuitamente protetores solares de elevada filtragem a todos os espetadores e os jornalistas eram aconselhados a ir para as bancadas de calças e t-shirts de mangas compridas para evitar cancros de pele.
As condições desumanas provocadas pela canícula em alguns dos mais importantes torneios do mundo não são de hoje e já houve cenas de miragens no court e até de desmaios.
Mas é evidente que as alterações climáticas e o aquecimento global estão a atingir-nos com força e a frequência com que estes episódios acontecem agora são no mínimo preocupantes.
O Open dos Estados Unidos tem mostrado algumas das imagens mais chocantes, porque às elevadas temperaturas soma-se a humidade que encharca qualquer um ao fim de poucos minutos. Nesta 137.ª edição que decorre neste momento as temperaturas junto ao court já chegaram aos 55 graus Celsius com a humidade a atingir os 60%.
Na segunda jornada cinco jogadores desistiram. Mikhail Youzhny cambaleou de cãibras, Stefano Travaglia começou a ver a triplicar, Danielle Collins e Ricardas Berankis vomitaram e Gille Simon avisou que até o cérebro deixa de funcionar.
A situação é ainda pior porque a federação norte-americana (USTA) recusa-se a fechar os tetos por calor, ao contrário do que sucede com a sua congénere australiana (Tennis Australia). Ainda este ano a final do Open da Austrália jogou-se com o estádio fechado.
É certo que neste US Open inovou-se com o alargamento da regra do calor aos homens e não apenas às mulheres, permitindo um intervalo de dez minutos entre o final do terceiro set e o início do quarto – tempo aproveitado por Novak Djokovic para um banho de gelo. Mas é uma medida insuficiente.
Leo Mayer, o parceiro de pares de João Sousa, tem razão em indignar-se, ao dizer que «não irão mudar nada até que alguém morra no campo».