Comic Con. ‘Press play’ na zona de gaming

A Comic Con Portugal tem uma área dedicada ao gaming onde os participantes podem experimentar todo o tipo de jogos, desde os clássicos aos últimos lançamentos

Na tenda do gaming a concentração é total. Joysticks, consolas, teclados ou até mesmo aparelhos de realidade virtual estão à disposição de quantos visitam a Comic Con.

Numa fila de computadores, à entrada da tenda, os participantes deixam-se envolver no Hitman 2. Mais à frente um grupo de rapazes dedica-se ao League of Legends. À esquerda é o Super Smash Bros que vai fazendo as delícias. Há jogos para todos os gostos e há mesmo quem queira ser o primeiro a experimentar os jogos que foram lançados esta sexta-feira na Comic Con.

É o caso do Dakar 18, que, durante a apresentação, contou com a presença dos campeões do rali Dakar Ari Vatanen e Nani Roma, ou do Marvel’s Spiderman para a Playstation 4 que foi apresentado esta na quinta-feira. Miguel Flor, de 19 anos, não resistiu a experimentá-lo. “Gosto da personagem e o jogo parece muito bom”, conta enquanto vai fazendo o Homem-Aranha saltar de prédio em prédio. O jogo vai estar disponível no evento antes de ser lançado no mercado.

Rita Gorgulho, de 25 anos e investigadora na área da biomedicina, encantou-se com os jogos de realidade virtual. Com os óculos colocados e dois comandos – um para cada mão –, Rita vai mexendo os braços ao ritmo do jogo. No ecrã atrás dela as mãos são como espadas que vão cortando os cubos que aparecem pelo caminho.

“Adorei a experiência”, diz a investigadora depois acabar o jogo. “Já tinha experimentado realidade virtual, mas era preciso andar e acabei por desequilibrar-me”. Rita ficou entusiasmada com o Beat Saber – nome do jogo que tinha acabado de experimentar – no entanto acredita que este modo ainda precisa de desenvolvimento para poder representar uma opção de mercado e inovar os jogos já existentes. E dá o exemplo do Warframe, um jogo RPG – Role Playing Game – que Rita gosta e onde o jogador controla uma personagem. “É uma possibilidade”, afirma.

De repente uma voz grita “Fight”. O som faz voltar as cabeças em direção a um ecrã gigante onde duas personagens se preparam para lutar. À sua frente dois jovens aguardam a contagem decrescente para poderem começar. O jogo inicia e o carregar frenético nos botões também. O Tekken 7 é uma das atrações desta zona.

Uma coisa que João Castro Ferreira e João Gomes, ambos de 18 anos, gostam é das divisões da zona de gaming. “Há uma área só para o Fifa, aqui é o Spiderman, isso é bom”, dizem. Numa outra tenda dois jogadores encostam-se num puf enquanto os jogadores vão dando uns toques na bola.

 

A nostalgia das máquinas de jogos

Para quem gosta de jogos vintage, a tenda Nostalgia é ideal. Desde o Classic Ping Pong game, até ao Super Mário para a Nintendo 64, incluindo as Playstation 1,2 e 3, tudo nos leva a um universo de jogos que já pensávamos esquecido.

Miguel e Inês Cabeça, de 13 e 17 anos, respetivamente, vão carregando nos botões de uma tradicional máquina de jogos enquanto, no ecrã, a personagem vai disparando contra um helicóptero. Jogam pela “experiência”. “Estamos mais perto do jogo. E primeiro temos de testar para descobrir como funciona. Carregamos nos botões todos”, explicam.

No canto esquerdo o jogo deixa de ser eletrónico. Jorge Vilar vai carregando nos botões do flipper enviando a bola para cima com toda a força. “É quase como estar numa máquina do tempo”, diz o jovem de 22 anos que também coleciona jogos antigos. Dos clássicos prefere a Legend of Zelda, o Sonic e o Mário Kart. “Dá para percebermos como os jogos foram feitos”, acrescenta.

Para quem gosta de jogos de tabuleiro, a Comic Con dispobilibiza ainda uma tenda onde os participantes podem não só conhecer as novidades do setor como experimentar os jogos. Em várias mesas espalhadas, grupos de jovens vão lançando os dados ou jogando as cartas numa competição amigável.

 

Do lazer à profissão

Apesar da cultura dos jogos eletrónicos ser vista como um entretenimento, há muitos jovens que começam a fazer dinheiro com o gaming. Mariana Almeida, mais conhecida por Mariikawa, é uma das streamers – jogadores que transmitem os seus jogos em direto – que foi convidada para estar na Comic Con. “Eu via o meu pai jogar, via o meu irmão jogar e depois entrei na onda e fiquei mais viciada do que eles”, conta Mariikawa. Faz transmissões em direto dos jogos há um ano e junta já 3200 seguidores.

“Eu já tinha ideia de fazer streams há alguns anos, mas diziam-me que era muito nova ou que não jogava bem. No entanto os streamers não são só pessoas que jogam bem, podemos ser entertainers”, explica. Mariana está inscrita na plataforma Twitch e já rentabiliza o seu trabalho. Ao ser “filiada”, Mariikawa recebe dinheiro das subscrições que tem, sendo que cada pessoa pode pagar o valor que entender. “Também existem doações”, acrescenta reforçando que “há pessoas que fazem vida disto”.

Para Mariana, o gaming não é o “objetivo de vida”. A jovem de 20 anos está a estudar comunicação e multimédia e gostava de trabalhar numa empresa de animação ou de criação de jogos.

 

Preconceito e sexismo

Num mundo de homens, Mariana já acumula algumas histórias de sexismo e preconceito para com as mulheres gamers. “Já tive rapazes a dizerem-me ‘és rapariga, vai para a cozinha’ – são aquelas mentes retrogradas – e já tive aqueles fanáticos que querem casar comigo. É muito estranho, mas apanha-se de tudo. Também se apanham pessoas normais”, conta. Muitas vezes, Mariikawa chega a fazer-se passar por rapaz para que não a chateiem.

E, mesmo na Comic Con, já experienciou uma situação desagradável: “Apanhei um grupo de rapazes de 17 anos que vieram aqui, mexeram na minha cadeira, no meu teclado, começaram a filmar-me de perto e a rebaixar-me. Aconteceu porque não me levam a sério, porque eu pareço ter 15 anos. Há sempre pessoas retrogradas, pessoas mal-educadas e eu hoje [sexta-feira] apanhei um grupo assim”.

No entanto, foi uma má experiência no meio de várias boas. Esta é a primeira vez que Mariiakawa faz streams fora de casa e já teve a oportunidade de conhecer seguidores que, até então, nunca tinha visto ao vivo. “Já tive com pessoas que veem em direto todos os dias e resolveram vir ter comigo e dizer ‘olha eu sou aquela alcunha que te segue no Twitch’ e falamos um bocadinho. É engraçado interagir online e ao vivo”, conta a streamer.