“Não há qualquer desculpa ou justificação para atacar pessoas que parecem diferentes”, afirmou a chanceler Angela Merkel, no debate aceso de quarta-feira no parlamento alemão. Mas foi Martin Schulz quem colocou as coisas nos termos mais veementes: “Chegou a altura de a democracia se defender contra o escalar da retórica, que acabará por resultar no abandono das inibições e na violência nas ruas”, afirmou o antigo presidente do Parlamento Europeu.
“Os migrantes são culpados de tudo – já se ouviram palavras semelhantes nesta casa antes”, referiu o deputado social-democrata, aludindo ao passado nacional-socialista do país. Schulz acusou o colíder da Alternativa para a Alemanha (AfD), Alexander Gauland, de adotar “os meios do fascismo”, de reduzir os problemas do país a uma explicação simples, “geralmente relacionada com uma minoria num país”. O discurso apaixonado de Schulz mereceu uma ovação em pé não só da sua bancada, mas também de todos os deputados dos Verdes e do Esquerda.
O social-democrata saiu em defesa da democracia depois de Gauland ter afirmado que “a paz doméstica” na Alemanha estava em risco, porque “tão repugnantes quanto as saudações nazis” feitas por uma minoria “foi o ato sangrento cometido por dois requerentes de asilo em Chemnitz”.
Merkel respondeu que os crimes a chocaram e que “devem ser investigados, os autores levados à justiça e punidos de forma severa pela lei”. Porém, isso não pode servir para justificar “o ódio, o uso da violência por alguns, o uso dos símbolos nazis, ataques contra a polícia e os debates acesos sobre se é ódio ou uma caçada”. “Não há desculpa” para isso, sublinhou a chanceler.
Gauland defendeu a participação do seu partido na manifestação de seis mil pessoas de extrema-direita em Chemnitz usando o argumento do “direito democrático à liberdade de reunião”. “Havia uns quantos idiotas agressivos entre os manifestantes que gritavam ‘estrangeiros, rua’ e que fizeram a saudação de Hitler, ninguém questiona isso”, afirmou o colíder do AfD. “Isso é de mau gosto e criminoso, mas foi uma minoria que não é representativa da manifestação no seu todo nem deslegitima a maioria dos manifestantes”, acrescentou.
Para Gauland, os partidos tradicionais aproveitam-se do episódio da saudação nazi para menosprezar o episódio, e disse-lhes: “Se não fosse por esses idiotas e imbecis, se fossem apenas cidadãos normais a manifestar-se, teria sido uma catástrofe para vocês.”