Jair Bolsonaro é também sinónimo de divergência. No momento em que lidera a corrida eleitoral à presidência do Brasil, um grande grupo de mulheres brasileiras decidiu começar uma marcha contra o candidato do Partido Social Liberal (PSL).
As últimas sondagens do Datafolha, o instituto de pesquisa do jornal “Folha de S. Paulo”, apontam para uma rejeição do eleitorado feminino a Bolsonaro na ordem dos 49%. A percentagem tem vindo a aumentar desde os primeiros discursos do candidato e refletiu-se agora na criação de um grupo na rede social Facebook, a 31 de agosto, que já juntara ontem, na altura em que este texto estava a ser escrito, quase 1,5 milhões de membros.
Entre os milhares de comentários, as acusações ao candidato ao Palácio do Planalto são uniformes. Discurso homofóbico, racismo e violência são algumas das muitas justificações para a rejeição a Bolsonaro que podem ser lidas no grupo do Facebook. Além desta forma de protesto, as mulheres brasileiras estão também a usar uma pulseira cor-de-rosa para que possam identificar-se umas às outras fora das redes sociais e levar para a rua o protesto contra Bolsonaro.
A descrição do grupo do Facebook é clara e destina-se “à união das mulheres de todo o Brasil contra o avanço e fortalecimento do machismo, misoginia e outros tipos de preconceitos representados pelo candidato Jair Bolsonaro e seus eleitores”.
Uma das criadoras da página, Ludimilla Teixeira, conta que a ideia nasceu depois de perceber que muitas das suas amigas partilhavam a mesma opinião em relação ao candidato presidencial e, por isso, decidiram “unir todas essas mulheres e criar um facto político para mostrar que grande parte da população não é favorável à candidatura”, refere.
Graças à união nas redes sociais, as mulheres vão sair à rua no dia 29 de setembro, em São Paulo, para manifestar o seu repúdio a Bolsonaro e àquilo que este representa. A convocatória já conta com mais de 40 mil confirmações e estão previstas manifestações similares noutras cidades do Brasil.
A situação atual de Bolsonaro é singular. Na história das eleições presidenciais brasileiras não há registo de casos de um candidato com uma discrepância tão grande nos seus apoiantes entre homens e mulheres. Bolsonaro é tema que exalta muitas mulheres brasileiras à luta e são elas o seu calcanhar de Aquiles na corrida à presidência.
O candidato da extrema-direita é autor de discursos considerados xenófobos, machistas e de apelo à violência. Defende os valores tradicionais da família cristã e o porte de armas e diz ainda que o combate à violência no Brasil deve ser feito de forma violenta pelas autoridades do país – um país, recorde–se, que só em 2017 atingiu quase 60 mil homicídios.
Os discursos do candidato de 63 anos ficam, grande parte das vezes, marcados por palavras ásperas e os exemplos são intermináveis. Em 2017 referiu que teve cinco filhos, “quatro homens, e a quinta, fraquejei e veio uma mulher”. Já este ano, em março, disse quando questionado se contrataria mais mulheres para o ministério que “não é questão de género. Tem que botar quem dê conta do recado. Se botar as mulheres vou ter que indicar quantos afrodescendentes”.
Submetido a nova operação
Entretanto, seis dias depois de ter sido ferido com uma facada no abdómen durante uma ação de campanha em Minas Gerais, Bolsonaro foi novamente submetido a uma operação.
Segundo o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, onde Bolsonaro está internado, foi feita uma ressonância magnética ao candidato que “mostrou uma aderência que está a obstruir o intestino delgado” e, por isso, foi necessário recorrer a uma intervenção cirúrgica. O hospital avançou durante o dia de ontem que a operação foi bem-sucedida.
Internado no hospital e sem poder fazer campanha eleitoral – provavelmente até ao seu final -, Bolsonaro continua à frente na corrida para as eleições presidenciais de 7 de outubro, com 26,6% das intenções de voto, de acordo com a sondagem do Poder 360 – seguido de Ciro Gomes, com 11,9%, Marina Silva, com 10,6%, e Fernando Haddad, com 8,3%.
O atentado veio esclarecer os mais indecisos, sobretudo na ala feminina. Por um lado, suscitou o lado compreensivo de algumas mulheres e a intenção de voto feminino registou um crescimento de cerca de dois pontos percentuais. Por outro lado, o ataque funcionou como gatilho que desencadeou a mobilização contra Bolsonaro, já que o atentado poderia gerar mais apoio ao candidato do PSL.