Figura controversa na política francesa, Marine Le Pen, líder da União Nacional, foi ordenada, a 11 de setembro, por um juiz instrutor francês a submeter-se, «no mais breve prazo», a uma avaliação psiquiátrica. A decisão foi tomada no âmbito de um inquérito judicial à divulgação no Twitter, em 2015, de três fotografias de atrocidades cometidas pelo Estado Islâmico. Indignada com ordem judicial, a líder de extrema-direita recusou participar na avaliação e comparou-a aos métodos dos estados totalitários. «É uma loucura», afirmou Le Pen. «Este regime começa a ser assustador», acrescentou, referindo ainda que se sente «perseguida» pelo Estado francês.
A ordem judicial tem como objetivos analisar «se ela [Le Pen] está em condições de compreender o discurso e de responder às questões» da investigação e se «a infração apontada tem relação com elementos factuais ou biográficos da interessada».
Em 2015, e poucas semanas depois dos atentados de Paris, a líder de extrema-direita publicou nas redes sociais uma série de fotografias das atrocidades perpetradas pelo Estado Islâmico, incluindo a da execução do jornalista norte-americano James Foley. A Justiça francesa avançou com um processo judicial sob uma lei que criminaliza quem publica imagens que «incitam ao terrorismo, à pornografia ou que ofendam seriamente a dignidade humana». Se for condenada, poderá ser sentenciada a uma pena de prisão até três anos ou a pagar uma multa máxima de 75 mil euros. «Pensava que já tinha ultrapassado tudo [relativamente ao processo], mas não! Por ter condenado os horrores do Estado Islâmico em tweets, o ‘sistema judicial’ quer me fazer passar por testes psiquiátricos! Até que ponto irão eles [os juízes]?», escreveu na rede social Twitter.
Aproveitando a polémica, Le Pen comparou a decisão judicial aos métodos usados em regimes totalitários para perseguir e descredibilizar os adversários políticos, «fazendo-os passar por loucos». «Gostaria de ver como o juiz vai tentar forçar-me a isso», desafiou a líder da União Nacional.
Por sua vez, o tribunal recusou-se a confirmar ter emitido tal ordem, mas magistrados explicaram à imprensa francesa que estas avaliações são normais neste tipo de investigações.
A solidariedade com Le Pen estendeu-se além fronteiras. O ministro do Interior italiano e líder da Liga Norte, Matteo Salvini, emitiu um comunicado a dizer que «não tinha palavras» para caracterizar a decisão e que estava «solidário com ela e com os franceses que amam a liberdade». E fez coro com a sua aliada: «O próximo passo é o gulag?».
Há também quem não defenda nem a ordem judicial nem Le Pen. Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa, que em tempos chamou à líder da União Nacional «meia lunática», criticou a ordem judicial. «Não é assim que iremos enfraquecer a extrema-direita», argumentou o líder do movimento de esquerda-radical. Mas não deixou de referir que a líder de extrema-direita é «politicamente responsável pelos seus atos».
Marine Le Pen não tem tido vida fácil nos últimos tempos e tem dito que o seu partido está em risco de desaparecer por dificuldades financeiras. Em junho, o Tribunal Europeu de Justiça obrigou-a a devolver 300 mil euros ao Parlamento Europeu por uso indevido de dinheiros. A dirigente terá usado, desde 2009, as verbas europeias para pagar salários de funcionários sediados em França e não na instituição europeia, com esta a calcular que cinco milhões de euros terão sido canalizados para esse fim. A líder de extrema-direita já recorreu da decisão.
Já a nível interno, juízes de instrução franceses decidiram reter este ano os subsídios estatais atribuídos ao partido, na ordem dos dois milhões de euros, enquanto investigam o uso indevido de dinheiros europeus, deixando o partido em dificuldades.