Caso de Christine Ford gera revolta contra Brett Kavanaugh, o candidato de Trump ao Supremo Tribunal

A votação preliminar da Comissão Judicial do Senado sobre a recomendação de Brett Kavanaugh deve realizar-se esta sexta-feira

Desde quinta-feira que o caso de abuso sexual – em que é acusado o candidato de Trump ao Supremo Tribunal, Brett Kavanaugh – denunciado pela professora de psicologia da Universidade de Palo Alto, Christine Blasey Ford, tem sido bastante mediático. O próprio presidente assistiu ao testemunho da vítima a bordo do avião presidencial.

A votação preliminar da Comissão Judicial do Senado sobre a recomendação de Brett Kavanaugh deve realizar-se esta sexta-feira. Christine Blasey Ford é a terceira mulher que apresenta queixa contra o candidato de Trump ao Supremo Tribunal, Brett Kavanaugh, e o seu testemunho, juntamente com perguntas feitas pela Comissão Judicial, demorou mais de três horas. A professora deslocou-se até Washington, apesar da sua fobia a aviões.

“Não estou aqui porque quero estar. Estou aterrorizada. Estou aqui porque acredito que o meu dever cívico é contar-vos o que me aconteceu enquanto eu e Brett Kavanaugh estávamos na escola secundária”, começou por contar Christine Ford.

De acordo com a professora universitária, em 1982, quando frequentavam o ensino secundário, Brett Kavanaugh e um amigo estavam embriagados e forçaram Christine a entrar num quarto, onde começaram a retirar-lhe a roupa: “Percebi que me ia violar. Tentei pedir ajuda. E quando comecei a gritar, o Brett colocou uma mão na minha boca para me impedir de gritar. Isso foi o que mais me assustou, o que teve mais impacto na minha vida. Foi muito difícil para mim respirar e pensei mesmo que ele me fosse acidentalmente matar”, relembrou minuciosamente, demonstrando-se emocionada e nervosa.

Alguns colegas de Kavanaugh denunciaram que o candidato a juiz consumia álcool frequentemente nesta altura. "Não é quem eu sou. Juro diante da nação e de Deus que sou inocente dessa acusação", contrapôs Kavanaugh.

Quando questionada se tinha a certeza de que o seu agressor era Kavanaugh, Christine Ford disse: “Tenho 100% de certeza que foi Kavanaugh”. “Ele e Judge [Mark Judge, amigo de Kavanaugh] estavam extremamente bêbados. Outras pessoas não. E a festa não era exatamente uma festa, mas sim um encontro que supus que terminasse eventualmente numa festa”, acrescentou. A professora foi também questionada se estava embriagada ou sob o efeito de alguma substância, respondendo que não.

“Durante muito tempo, tive muito medo e sentia vergonha de contar a alguém os detalhes do que aconteceu (…) Convenci-me a mim mesma de que o Brett não me violou”, disse Christine Ford sobre não ter tornado o caso público mais cedo. A professora de psicologia apenas terá contado o episódio a membros da sua família e amigos próximos, revelando que mesmo assim, na maioria das vezes, não referiu o nome de Kavanaugh, apenas dizendo que se tratava de um “advogado ou juiz muito conhecido”.

“Não contei pormenores a ninguém antes de maio de 2012, altura em que tive uma sessão de terapia. Depois dessa sessão, tentei ao máximo apagar as memórias do abuso porque lembrar-me disso levava-me a reviver tudo de novo e tinha ataques de pânico e ansiedade”, sublinhou.

No entanto, Brett Kavanaugh negou tal acontecimento: "Nunca abusei sexualmente ninguém. Nem no secundário, nem na faculdade, nunca. A agressão sexual é uma coisa horrível. Quem faz essas alegações deve sempre ser ouvida. Mas ao mesmo tempo, a pessoa sobre quem são feitas essas alegações também tem de ser ouvida ", disse.

Quanto à decisão de falar sobre o assunto publicamente, Ford conta: “No dia 9 de julho recebi uma chamada da congressista Anna Eshoo depois de Kavanaugh ter sido nomeado. Encontrei-me com ela e descrevi-lhe os acontecimentos. Disse-lhe que tinha medo de falar sobre o assunto publicamente”, contou, referindo que depois “discutiram a possibilidade de enviar uma carta para Dianne Feinstein [uma das senadoras da Califórnia, estado onde reside a vítima do abuso sexual] a descrever o que aconteceu”. A carta foi enviada, mas foi pedido que se mantivesse a identidade da professora em anonimato.

Desde que a sua acusação foi tornada pública, há cerca de duas semanas, Christine e a sua família têm recebido inúmeras ameaças por chamada e nas redes sociais. Para além disso, os seus dados pessoais foram revelados e a sua conta de email profissional chegou a ser pirateada. Tudo isto levou a que a professora tivesse de mudar de residência com a sua família e os encontros com outros membros tinham de ser vigiados por seguranças.

O candidato do presidente dos Estados Unidos ao Supremo Tribunal afirma que estas acusações são como "uma jogada política, calculada e bem orquestrada", acrescentando que o seu nome e a sua família foram “destruídos” pelas acusações das três mulheres.

Brett Kavanaugh, bastante agitado, disse ainda: “nunca vão conseguir que eu me retire”.

“A minha motivação para apresentar queixa e assumir a minha identidade foi para que conseguisse ajudar outras vítimas e fornecer factos sobre o quão devastadores os atos de Kavanaugh foram para a minha vida, para que pudessem ter em consideração como proceder. Não é minha responsabilidade decidir se Kavanaugh merece ou não um lugar no Supremo Tribunal. A minha responsabilidade é dizer a verdade”, concluiu Christine Ford.

O candidato optou por não responder a oito perguntas que lhe foram colocadas por membros da Comissão Judicial do Senado, sendo uma delas: “Estaria disposto a colaborar com o FBI numa investigação sobre si mesmo?” e “se gostaria que Christine Ford se tivesse mantido em silêncio?”.

Donald Trump, que manifestou o seu apoio pelo candidato, assistiu ao testemunho de Christine Ford a partir do avião presidencial e, de acordo com a Casa Branca, "é possível que mude de opinião depois de a ouvir.”. “Se achar que ele é culpado do que quer que seja poderei, com certeza, retirar-lhe o apoio", disse Donald Trump antes de ouvir o testemunho da mulher.

De momento, o comité da câmara alta do Congresso norte-americano é constituído por 11 republicanos e 10 democratas, sendo que estes vão fazer parte da votação preliminar.Vários membros do partido democrata pedem que o candidato a juiz do Tribunal Supremo seja alvo de investigação por parte dapolícia federal norte-americana (FBI).

O testemunho de Christine Ford já gerou a hashtag nas redes socias "Believe Women" (acreditar nas mulheres) e "Believe Survivors" (acreditar nas sobreviventes).