Liga à porta fechada? Só para crentes

O castigo decretado pela FPF deveria ser cumprido no Benfica-FC Porto, mas nem os dragões querem jogar sem público no clássico da Luz.

«Não acredito no Pai Natal». Foi assim, de forma bem direta, que Jorge Nuno Pinto da Costa reagiu quando confrontado com a possibilidade de o clássico entre Benfica e FC Porto, a ser disputado no próximo dia 7 no Estádio da Luz, ser realizado à porta fechada.

Em causa está a deliberação do Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que condenou as águias (tal como o Braga e o Paços de Ferreira) à interdição do seu recinto por um jogo, na sequência de distúrbios e incidentes causados por adeptos em jogos da temporada passada. O Benfica, tal como o Braga, recorreu da decisão inicial (ao contrário do Paços de Ferreira), mas o apelo não foi aceite pelo CD.

Este cenário levou mesmo os encarnados, numa primeira fase, a suspender a venda de bilhetes para o clássico. Entretanto, porém, a mesma já foi retomada, ao mesmo tempo que o clube anunciava o recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), com o objetivo de impugnar a decisão do CD e requerer o decretamento de providência cautelar suspensiva da mesma. Em comunicado publicado no seu site oficial, a SAD do Benfica realçava a certeza de ver o TAD decidir a seu favor, considerando a decisão do CD da FPF «séria e muito grave».

 

E ainda há o IPDJ…

Tudo está agora, assim, nas mãos do TAD. Se aquele órgão aceitar a providência cautelar apresentada pelas águias, o processo pode demorar meses a ser concluído; se, pelo contrário, recusar a mesma, então a interdição será de facto aplicada de imediato – ou seja, o Benfica-FC Porto jogar-se-á, de facto, sem público nas bancadas.

A decisão do CD, refira-se, está longe de ser consensual. Aliás, a mais alta figura do próprio rival nesse encontro manifestou-se na sexta-feira precisamente contra o cenário de um clássico a disputar-se à porta fechada. «Isso para mim não foi questão, nunca admiti que isso pudesse acontecer, foi apenas um ‘fait-diver’ e nem ninguém nunca acreditou que ia ser à porta fechada. Não desejávamos nem admitíamos que isso pudesse acontecer. O futebol é um espetáculo e qualquer espetáculo tem de ter gente, tem de ser vivido pelo povo, pelos adeptos. Pensar que se resolve os problemas do futebol afastando o público do futebol é no mínimo original, não faz qualquer sentido», atirou o presidente do FC Porto, completando a ideia com um contundente «Toda a gente sabe que não vai ser à porta fechada.»

No caso do Benfica, recorde-se, esta punição acumula com uma outra, decretada pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IDPJ), também de um jogo à porta fechada, aí devido ao processo relativo ao alegado apoio que a SAD encarnada concede às claques do clube – consideradas ilegais por aquele organismo. Também nessa situação as águias anunciaram recurso, estando o processo a decorrer neste momento.

O IPDJ, de resto, atravessa também um período de enorme convulsão, desde que o Governo anunciou a demissão de Augusto Baganha da presidência, após sete anos, e a sua substituição por Vítor Pataco, ex-vice-presidente. Baganha não se conforma com a decisão, tendo mesmo apresentado já uma providência cautelar no sentido de a anular, considerando que o despacho que confirmou a sua destituição «não está bem fundamentado». O antigo basquetebolista do Sporting, e membro da Comissão de Honra de José Maria Ricciardi na candidatura do empresário ao clube leonino, acusa ainda o seu sucessor de falta de isenção e de ter sido escolhido pelo Benfica para o cargo, fundamentando a acusação com o facto de Pataco, alegadamente, ter retido o processo sobre as claques das águias durante dez meses. Entretanto, Vítor Pataco anunciou ter entrado com um processo judicial contra o seu antecessor por «insinuações e acusações que não correspondem minimamente à verdade».

O mesmo garante o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, ouvido esta sexta-feira pela Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto da Assembleia da República. O membro do governo referiu-se a Vítor Pataco como «uma pessoa competente, com um percurso com 30 anos de dedicação ao desporto que fala por si», e desmentiu ter tomado qualquer decisão para favorecer o Benfica: «Pelo contrário: há uma defesa intransigente da lei e oo garantir que todos estão no cumprimento dessa lei, o que não acontecia no passado.» Em relação à possibilidade de o clássico se disputar à porta fechada, o mesmo tom foi adotado: «É essencial que haja o cumprimento da lei no futebol e em todas a modalidades. Estão a ser cumpridas regras.»