"Posso dizer honestamente que nunca bebi uma cerveja na vida (…) É uma das minhas raras qualidades: não bebo", disse esta segunda-feira Donald Trump, durante uma conferência de imprensa nos jardins da Casa Branca. O alcoolismo é um tema muito próximo de Trump, por razões que muitos desconhecem – no meio de uma família que vários caracterizam como vitoriosa, um exemplo da iniciativa americana, existe um lado negro e trágico.
Durante a campanha presidencial, falando sobre o problema das drogas e do álcool nos EUA, Donald Trump apanhou todos de surpresa ao mostrar o seu lado mais vulnerável: “Tive um irmão chamado Fred Jr. Um tipo excelente. Bonito, com uma grande personalidade… Muito melhor que a minha. Mas ele tinha um problema. Tinha um problema com o álcool. Ele dizia-me para não beber. Era mais velho do que eu, ouvia os seus conselhos e respeitava-o… Para além disso, dizia-me “não fumes”. Ele repetia estas coisas vezes sem conta”.
“Até hoje, nunca toquei numa bebida alcoólica e não tenho qualquer interesse em fazê-lo. Até hoje, nunca fumei um cigarro. O meu irmão ajudou-me muito. Teve uma vida muito complicada devido ao álcool. Era um homem forte, mas foi difícil lidar com tudo”, recordou Donald Trump. Ambos tinham uma relação muito próxima – Fred Jr. foi o padrinho de Donald no seu primeiro casamento, com Ivana.
Mas qual é a história de Fred Jr.? Era o segundo filho mais velho do empresário Trump. Nascido em 1938 – oito anos antes de Donald -, Fred Jr. cresceu com a família em Queens, em Nova Iorque (EUA). Depois de se formar na Universidade de Lehigh, trabalhou com o pai na sua empresa de imobiliário, mas, ao contrário do que era esperado, abandonou o negócio de família para se tornar piloto na Trans World Airlines.
Aos 23 anos, casou com Linda Clapp, com quem teve dois filhos. É mais ou menos nessa altura que começa o seu problema com o álcool, contou o New York Times em 2016. “[Em 1968] divorciou-se e deixou o emprego como piloto porque sabia que o consumo de álcool poderia ser perigoso (…) Nos anos 70, vivia com os pais e trabalhava numa das equipas de manutenção da empresa do pai”, refere o artigo.
Diz o New York Times que Fred Jr. não aguentou a pressão de ser filho de quem era – Trump era um dos maiores empresários da altura –, lidando mal com o “perfeccionismo” do pai. Amigos próximos afirmam que Fred se sentia “infeliz” a trabalhar com o pai. Confrontado pelo New York Times com a hipótese de esta relação com o negócio de família ter agravado o problema de alcoolismo, Donald Trump respondeu “Espero que não. Espero que não”. Mas a verdade é que o estado de tristeza em que vivia levou o irmão do atual presidente dos EUA a recorrer cada vez mais à bebida – já não era uma simples forma de distração, mas sim um vício com repercussões graves.
O álcool acabou por vencer a batalha: em 1981, aos 43 anos, Fred Jr.acabou por morrer devido a complicações relacionadas com o alcoolismo. O New York Times sugeria, em 2016, que este momento teve um grande impacto na vida de Donald e na sua ambição: “Trump chegou a dizer que aprendeu muito ao ver o caso do seu irmão, ao perceber como as escolhas erradas podem arrasar até aqueles que aparentemente estão destinados ao sucesso”.