As decisões urbanísticas em Lisboa têm estado nas bocas do mundo e esta semana a polémica intensificou-se: Margarida Saavedra, antiga diretora municipal da gestão urbanística e ex-vereadora da Câmara Municipal de Lisboa (CML), teceu duras críticas a várias obras e projetos recentes da cidade em entrevista ao jornal i.
A arquiteta, com mais de 30 anos de experiência na autarquia, aponta em particular o dedo à atuação do vereador Manuel Salgado, responsável pelo pelouro do Planeamento, Urbanismo, Património e Obras Municipais, no caso da Torre de Picoas, que considera «um elefante na cidade de Lisboa».
«É um facto que o vereador Manuel Salgado quando levou à Assembleia Municipal a alienação da parte subterrânea da Fontes Pereira de Melo omitiu que aquela parte já estava ocupada. Levou uma autorização para ocupar a Fontes Pereira de Melo no subsolo, omitindo que já tinha sido ocupada. E quando foi confrontado disse: ‘Eu fiz um auto de embargo, mandei embargar a obra’. Nós, na comissão de urbanismo, fomos ver o processo e não havia auto de embargo nenhum. Isto é um facto, consta nas atas, consta em todo o lado. Chamámos o vereador Manuel Salgado, que com o diretor municipal disse que o auto de embargo tinha sido verbal. Aí eu lembrei-o que o Código do Procedimento Administrativo obriga a que dez dias depois de uma ordem verbal ela seja passada para escrito. E não constava. Eu nunca vi esse auto de embargo», revelou ao jornal i.
O ‘mono’ do Rato é outra das obras criticadas pela antiga vereadora, mas não pelos motivos que Saavedra considera terem tomado conta da controvérsia que o projeto está a gerar. «Não gosto da palavra mono. Acho que deliberadamente estão a colocar a questão do edifício do Rato numa questão estética, numa questão meramente de projeto e não é nada disso que está em causa», defende, explicando que «as questões que se colocam são de incumprimento de regulamento». Segundo a ex-diretora municipal de gestão urbanística, que foi também deputada na Assembleia Municipal pelo PSD, «a questão que se prende com o edifício do Largo do Rato é sobretudo uma questão de violação de regras urbanísticas».
Mas há outras decisões urbanísticas na cidade que merecem o comentário da antiga vereadora. Diz não concordar, por exemplo, com o projeto de prolongamento do metro, defendendo que «o metro poderia ser expandido para outras zonas, como inicialmente se previa para Campo de Ourique, onde existem populações que estão muito mal servidas de transporte público. Se é para favorecer este ou aquele, não sei. Mas estrategicamente esta linha amarela vai desembocar exatamente nas próximas grandes operações urbanísticas da CML».
Na entrevista ao i, Margarida Saavedra falou ainda sobre os bastidores da autarquia, denunciando a pequena corrupção que existe e na qual até já se viu uma vez envolvida: um munícipe deixou-lhe um envelope com dinheiro em cima da secretária porque precisava de uma autorização e a ex-vereadora devolveu-o.
Saavedra sugeriu ainda que António Costa acumula as funções de primeiro-ministro com as da autarquia lisboeta, não hesitando ao lançar suspeitas sobre o o caso Robles. «[…] Foi lançado nos jornais numa altura em que o Bloco estava a negociar o Orçamento do Estado e isso desacreditou o BE. A câmara neste momento tinha uma relação pacificada com Ricardo Robles, a quem é que interessou o descrédito?», questionou.