Brasil. Violência de apoiantes de Bolsonaro está a marcar a segunda volta

Bolsonaro, que aparece à frente nas sondagens com 58%, diz que dispensa o voto “de quem pratica violência”

“A este tipo de gente peço que vote nulo ou na oposição, por coerência, e que as autoridades tomem as medidas cabíveis, assim como contra caluniadores que tentam nos prejudicar”, escreveu no Twitter Jair Bolsonaro, o candidato mais bem posicionado para se tornar no próximo presidente do Brasil no dia 28 de outubro.

O candidato reagia assim ao número crescente de episódios de violência cometidos pelos seus apoiantes contra eleitores de Fernando Haddad, o seu adversário do Partido dos Trabalhadores (PT). O último dos quais aconteceu em Porto Alegre, no sul do país, onde uma jovem de 19 anos foi agredida por usar uma t-shirt com a hashtag #EleNão. Os agressores marcaram-lhe a barriga a com uma cruz suástica feita a canivete.

Num evento em Salvador, na Baía, Haddad lembrou o caso da jovem e a morte do mestre de capoeira Moa do Katendé (morto com 12 facadas por um apoiante de Bolsonaro) para acusar o seu opositor de promover a violência. Ontem, em reação às declarações de Bolsonaro, o candidato do PT voltou a insistir que é o discurso do candidato quem incita o clima de violência: “Chegou a naturalizar estupro e tortura nos cárceres da ditadura. É alguém que naturalizou a violência e agora se assusta com ela”.

Questionado pela imprensa na terça-feira à noite, Bolsonaro lamentou a situação, mas descartou qualquer culpa: “Quem levou a facada fui eu, pô! O cara lá tem uma camisa minha e comete um excesso, o que eu tenho a ver com isso?”.

 

Favorito mesmo entre as mulheres

Bolsonaro é largamente favorito para chegar ao Palácio do Planalto, como demonstra a primeira sondagem da segunda volta, da Datafolha, em que surge com 58% dos votos válidos contra 42% do seu adversário. Tal como na primeira volta, Bolsonaro apenas perde para Haddad no Nordeste do Brasil, onde este tem 52% dos votos válidos e Bolsonaro 32%.

Curiosamente, apesar de todo o movimento #EleNão de mulheres contra Bolsonaro, este também surge à frente no universo eleitoral feminino, com 42% dos votos válidos contra 39% de Haddad. 

O candidato do PSL aproveitou, entretanto, as redes sociais para garantir que não está a fugir aos debates como tem sido acusado e que na quinta-feira terá uma consulta com os médicos que lhe deverão dar alta para participar na campanha eleitoral: “Quem acha que estou fugindo de debates, estou cuidando da minha saúde. Não adianta eu debater, ter uma recaída e voltar para o hospital”, afirmou num vídeo divulgado no Facebook.

Ao mesmo tempo, o deputado do PSL publicou uma fotomontagem com títulos de notícias de 2006, quando Lula decidiu não participar no último debate, e de 2014, quando Dilma Rousseff fez o mesmo.

 

Igreja Católica toma posição a favor da democracia

A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que recebeu ontem Fernando Haddad, afirmou em nota que “o candidato não veio pedir apoio e a CNBB não tem partido nem candidato”. No entanto, o secretário-geral da organização, D. Leonardo Steiner, que assina a nota, referira na véspera, numa entrevista à UOL, que aquilo que a Igreja Católica defende é a democracia: “Temos duas candidaturas à presidência, mas somos a favor é da democracia”, disse o também bispo auxiliar de Brasília.

Steiner pediu “ao eleitor católico” para observar se “os candidatos pregam mais ou menos democracia; se buscam a convivência fraterna com base da educação, no respeito e justiça social”. Sublinhando que “não existem salvadores da pátria”, D. Leonardo Steiner acrescentou que “como cristãos, somos sempre pessoas da esperança, e a pessoa de esperança vai construindo a democracia”.

Segundo a sondagem da Datafolha, o candidato do PT perde para Bolsonaro entre o eleitorado católico por 40% contra 46% e entre o eleitorado evangélico por 60% contra 26%, daí que para esta segunda volta a sua campanha tenha formado dois grupos de trabalho destinados a melhorar a mensagem de Haddad para esses eleitores, de modo a tentar reverter o estado atual. Se em termos evangélicos, a situação parece bem mais difícil, entre os católicos o PT tem aliados de peso.

No princípio deste mês, D. Reginaldo Andrietta, bispo de Jales, assumiu uma posição forte contra Bolsonaro: “São escandalosas as posturas alienadas de muitos cristãos e as adesões a um candidato à presidência que dissemina violência, ódio, racismo, homofobia e preconceito contra as mulheres e pobres. Ele utiliza falsamente as temáticas do aborto, género, família e ética, faz a apologia à tortura, à pena de morte e ao armamentismo; e é réu por injúria e incitação ao crime de estupro.”

Uma posição que, no entanto, acabou por ter pouco impacto na opinião pública, refletindo o peso cada vez menor da hierarquia católica na sociedade brasileira. Já em 2015, a maior autoridade da Igreja Católica no Brasil se queixava da pouca atenção da imprensa: “As assembleias da CNBB sempre foram pauta para a imprensa. Nos últimos anos, porém, sua cobertura tem ficado escassa.”