Tancos. Documento entregue no Ministério da Defesa explica encobrimento

Um mês depois de recuperadas as armas, o chefe de gabinete de Azeredo Lopes recebeu um documento explicando que o aparecimento das armas foi forjado

Em novembro de 2017, o na altura diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM), coronel Luís Vieira, e o antigo porta-voz da PJM, Vasco Brazão, foram até ao gabinete do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, com um memorando que descrevia a forma como o material militar que foi roubado em Tancos fora recuperado.

Segundo noticiou a revista “Sábado”, quando os dois responsáveis da PJM chegaram ao gabinete de Azeredo Lopes, este não se encontrava, tendo o documento sido entregue ao chefe de gabinete do ministro, o major–general António Martins Pereira.

O memorando – composto por apenas duas folhas A4, e não está assinado nem datado – explica a forma como a recuperação das armas foi forjada pela PJM. 

Segundo escreve a “Sábado”, o documento descreve que a entrega das armas foi combinada entre a PJM e um informador, que se disponibilizou a dar a localização do material, com uma condição: a Polícia Judiciária (PJ) não poderia estar envolvida no processo.

Como prova de que estava a falar a sério, o informador ter-se-á disponibilizado a entregar “umas granadas”. Se, depois disso, a PJM não notificasse a PJ, ele revelaria a localização do resto do material. 

O memorando, citado pela revista, descreve ainda a forma como foi pensado o encobrimento da devolução das armas: “O informador da PJM diz que terá de ser feita uma chamada anónima da Margem Sul de um local que possa ser identificado.” Na sequência deste acordo, Vasco Brazão deu “ordem a um militar seu para às 3h da manhã fazer uma chamada para o piquete, que nesse dia era o próprio major Brazão”.

No seu interrogatório, fontes ligadas ao processo e citadas pela “Sábado” dizem que Vasco Brazão fez uma descrição da sala onde se encontrou, juntamente com o antigo diretor da PJM, com o chefe de gabinete de Azeredo Lopes. 

O responsável pelo gabinete, após ter lido o documento, ligou ao ministro dando conta da reunião. Segundo as declarações de Vasco Brazão, foi o antigo diretor da PJM que explicou ao ministro, através da chamada telefónica, como as armas apareceram.

Azeredo Lopes não deu uma reação oficial à revista. Na passada quarta-feira, após o jornal “Expresso” ter revelado as declarações feitas por Vasco Brazão durante o seu interrogatório, o ministro reagiu: “É totalmente falso que eu tenha tido conhecimento de qualquer encobrimento neste processo. Não tive conhecimento de qualquer facto que me permitisse acreditar que terá havido um qualquer encobrimento na descoberta do material militar de Tancos.” 

Já o chefe de gabinete do ministro, numa nota enviada à Lusa ainda no mesmo dia, confirmou a visita dos dois responsáveis da PJM, garantindo que não lhe “foi possível descortinar qualquer facto que indicasse qualquer irregularidade ou indicação de encobrimento de eventuais culpados do furto de Tancos”.

Depois de a notícia da “Sábado” ter sido publicada, Marcelo reagiu dizendo que “quaisquer que sejam as consequências, doa a quem doer, o apuramento das responsabilidades tem de ser feito”.

PGR envia informação sobre tancos ao Parlamento

A procuradora-geral da República (PGR) enviou “informação processual relativa ao inquérito” sobre Tancos – e que se encontra em segredo de justiça – à comissão parlamentar de Defesa Nacional, no âmbito de um requerimento do CDS-PP. 

O presidente da comissão, Marco António Costa, decidiu não revelar o conteúdo dos documentos da PGR sem que seja clarificada a questão do segredo de justiça. Até lá, os documentos enviados estarão lacrados e guardados no cofre.