A pressão sobre a Arábia Saudita por causa da morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi continua elevada. Ontem de manhã, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, aterrou em Riade e dirigiu-se de imediato para a residência do rei saudita, Salman, onde lhe “reiterou as preocupações norte-americanas sobre o desaparecimento” do jornalista, segundo a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert. De seguida, encontrou-se com o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, e espera-se que aterre hoje em Istambul para dialogar com as autoridades turcas.
Enquanto o líder da diplomacia norte-americana tentava minimizar a tensão diplomática entre Washington e Riade, a CNN revelava que as autoridades sauditas estão a trabalhar numa declaração sobre o que aconteceu a Khashoggi. Segundo fontes do canal norte-americano, o documento defenderá que a morte do jornalista aconteceu por causa de “um interrogatório que correu mal”. Riade pretendia interrogar o jornalista crítico do regime e da intervenção militar no Iémen e levá-lo para a Arábia Saudita. A declaração também deverá afirmar que a operação secreta foi encetada sem qualquer autorização superior e que os agentes responsáveis serão punidos, ainda que se desconheça como.
Mas o conteúdo do documento poderá mudar consoante o desenrolar dos acontecimentos, alertou a CNN. Daí a viagem de Pompeo, que tenta encontrar uma solução que não condicione Washington a ser mais duro com a monarquia saudita, aliado norte-americano.
Se a declaração assumir os moldes avançados até ao momento, representará uma mudança drástica no posicionamento saudita sobre o caso. Mas, segundo o “Washington Post”, apenas será revelado depois de Riade chegar a acordo com Ancara sobre o futuro da investigação – o reino enviou uma equipa para Istambul para colaborarem com as autoridades turcas na investigação.
Desde que o jornalista desapareceu, a 2 de outubro, depois de entrar no consulado saudita, que Riade se tem desdobrado em declarações negando qualquer envolvimento, afirmando que o jornalista saiu do edifício pelo seu próprio pé. Versão que a noiva de Khashoggi, a turca Hatice Cenzi, sempre contestou ao dizer que esperou durante horas pelo seu noivo à porta das instalações. A mudança de posicionamento poderá ter sido motivada pelo avançar das investigações das autoridades turcas, que, na segunda-feira, entraram pela primeira vez no consulado para recolherem provas, mas também pelo avolumar da pressão política sobre o regime saudita.
Ontem, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que a polícia turca encontrou paredes pintadas de fresco quando entrou no consulado – e horas antes da recolha de provas uma equipa de limpeza, com diverso material e batas, foi vista a entrar no consulado. “A minha esperança é que consigamos chegar a conclusões que nos deem uma visão razoável tão cedo quanto possível, porque a investigação está a analisar muita coisa como os materiais tóxicos e aqueles que foram removidos quando pintaram por cima”, disse o chefe de Estado turco. A Al-Jazeera, citando fonte próxima do procurador-geral turco, avançou que a polícia encontrou indícios suficientes que “corroboraram a tese” de Khashoggi ter sido morto no consulado.
As autoridades turcas já tinham tornado pública a convicção de que Khashoggi foi assassinado no gabinete do cônsul-geral saudita, Mohammad al-Otaibi, que viajou para Riade horas antes de a polícia turca entrar no consulado. Depois, o seu corpo terá sido levado para outro local e desmembrado por dois homens antes de ser enterrado no jardim do consulado. “Sabemos quando Jamal [Khashoggi] foi assassinado, em que sala e para onde o seu corpo foi levado para ser desmembrado”, disse uma fonte próxima da investigação ao “Middle East Eye” no final da semana passada.