Nas ruas das cidades brasileiras, apoiantes do candidato de extrema-direita, Jair Bolsonaro, e do candidato pelo PT, Fernando Haddad, digladiaram-se ontem para ver quem conseguia mostrar mais apoio ao seu candidato. Enquanto nas ruas se ouviam palavras de ordem, Bolsonaro e Haddad disputavam os votos do Nordeste brasileiro, histórico bastião de esquerda e responsável por evitar que Bolsonaro ganhasse à primeira volta das presidenciais.
Para conquistar votos na região onde a pobreza extrema mais cresceu e o PIB mais encolheu desde as eleições de 2014, Bolsonaro tem investido nas promessas de futuras políticas sociais para conquistar o Palácio do Planalto no próximo dia 28 de outubro. No centro das promessas está o reforço da Bolsa Família, que neste momento beneficia 6,9 milhões de famílias na região, perfazendo mais de metade do total no país inteiro – 50,7%. E se prometer o que o Partido dos Trabalhadores criou não chegar para conquistar mais eleitores, Bolsonaro pondera, segundo o “Folha de São Paulo”, avançar com uma medida mais radical: aumentar o valor das prestações a quem consiga comprovar que os seus rendimentos aumentaram por contra própria e manterem-se no programa social até os seus rendimentos ultrapassarem uma determinada fasquia.
Mas se Bolsonaro tem apostado em diluir o seu discurso para chegar aos eleitores do centro – e até à esquerda, como parece mostrar as suas promessas –, a verdade é que as declarações polémicas não abandonam a sua campanha, sejam proferidas por si próprio ou por quem lhe é próximo. Ontem, o seu filho, Eduardo Bolsonaro, divulgou um vídeo em que afirma que para encerrar o Supremo Tribunal Federal basta “um soldado e um cabo”. Depois, ao comentar uma possível impugnação do TSF à candidatura do seu pai, Eduardo avisou que o supremo órgão judicial “terá de pagar para ver o que acontece”. “Será que eles vão ter essa força mesmo?”, questionou o agora deputado federal mais votado na História democrática brasileira com 1,8 milhões de votos.
Declarações que o próprio Bolsonaro veio ontem minimizar e deixar recados. “Se alguém falou em fechar o STF, precisa consultar um psiquiatra”, disse o candidato ao Palácio do Planalto, garantindo ainda que desconhece o vídeo e que alguém deverá ter tirado as declarações de contexto.
Enquanto Bolsonaro faz promessas e reage a declarações polémicas, Haddad não pára de tentar subir nas sondagens. O candidato petista dedicou esta semana à campanha no Nordeste e ontem esteve em São Luís, onde prometeu aumentar em 20% os benefícios do Bolsa Família, por a inflação ter mais impacto nas camadas mais pobres. “Bolsa Família, em janeiro, 20% de acréscimo no Bolsa Família. Porque as famílias estão sofrendo muito. Quem tem hoje um benefício de 200 reais (46,78 euros), vai passar, em janeiro para um benefício de 240 reais (56,14 euros)”, prometeu Haddad. “Para enfrentar a carestia. A inflação de quem ganha pouco é mais alta”, acrescentou. O candidato petista não se ficou pela Bolsa Família, prometendo ainda limitar o preço das botijas de gás no máximo de 49 reais (11,46 euros).
Mas não só de promessas se ficou a campanha de Haddad, concentrando as baterias em Bolsonaro. “Essas pessoas são uma mílicia, não é um candidato a presidente, é um chefe de milícia, os seus filhos são milicianos, são bandidos, é gente de quinta categoria, essa é a verdade”, acusou Haddad, alertando que quem “está anestesiado não vê o perigo”. Haddad tem-se multiplicado, desde o início da segunda volta, em esforços para criar uma frente democrática alargada contra Bolsonaro.
A sondagem mais recente, divulgada na passada quinta-feira, não trouxe boas notícias para Haddad. Bolsonaro subiu para os 59% das intenções de voto, enquanto o petista se fica pelos 41%. Bolsonaro subiu um ponto em relação à sondagem da Datafolha, de 10 de outubro, enquanto Haddad também desceu 1%. Mas o dado mais interessante das sondagens parece ser a convição dos eleitores, com 95% dos de Bolsonaro a dizerem que não mudarão de ideias e 89% de Haddad a dizerem o mesmo. Ainda que os dois candidatos tentem conquistar eleitorado com as suas promessas, a dificuldade de expandirem o número votos parece significativo. O capitão na reserva tem uma taxa de rejeição de 41%, enquanto o ex-ministro de Lula da Silva tem 54%.
Mas nem por isso os seus apoiantes deixam de tentar eleger os seus candidatos. Ontem, manifestações em apoio a Bolsonaro marcaram as ruas de São Paulo, Brasília e Porto Alegre, entre outras. Mas também se viram manifestações a favor de Haddad nessas mesmas cidades, mostrando como a sociedade brasileira se encontra dividida como nunca desde o fim da ditadura militar.