As reações da Rússia e da Alemanha ao anúncio da saída dos Estados Unidos do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio feito pelo presidente norte-americano, Donald Trump. “É um passo muito periogoso”, alertou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Ryabkov, acusando Washington de querer ter a “total supremacia” no plano militar. “O tratado foi durante 30 anos um importante pilar da arquitetura de segurança europeia”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Maas. E, com críticas a Moscovo, apelou a Washington para que ponderasse as consequências dessa saída: “Instámos muitas vezes a Rússia a resolver as sérias alegações de que estava a violar o tratado. Agora pedimos aos EUA que considerem as possíveis consequências [do seu abandono]”.
O tratado foi assinado em 1987, já nos últimos anos da Guerra Fria, entre o líder soviético Mikhail Gorbachov e o presidente norte-americano Ronald Reagan. Com o colapso da União Soviética, a Federação Russa manteve-se no tratado que decretou a eliminação de todos os mísseis nucleares e convencionais, bem como os seus dispositivos de lançamento, com alcance entre os 500 a 5500 quilómetros. Os EUA e aliados têm acusado nos últimos anos Moscovo de violar o acordo, mas o abandono do mesmo nunca esteve em cima da mesa até Trump chegar à Casa Branca.
“A Rússia violou o tratado. Tem-no violado ao longo de muitos anos. Não sei o porquê do presidente [Barack] Obama não o ter negociado ou abandonado. Mas não os vamos deixar que continuem a violar um acordo nuclear, que saiam e adquiram armas enquanto nós não podemos”, disse o chefe de Estado dos EUA este sábado. “Somos aqueles que se mantiveram no acordo e o honrámos, mas a Rússia, infelizmente, não o honrou. Então, vamos terminar com o acordo e abandoná-lo”, anunciou.
Um dos temas que tem estado em cima da mesa entre Washington e Moscovo tem sido o prolongamento do tratado START, que impõe reduções e limitações ao armamento estratégico ofensivo, como armas nucleares. Esta decisão, disse fonte oficial do ministério dos Negócios Estrangeiros russo ao “Guardian”, “vai destruir qualquer possibilidade de se prolongar o novo tratado START”.
O abandono de Washington não tem apenas como ‘alvo’ a Rússia, mas também a China, que não é signatária do tratado e, portanto, pode desenvolver sem limitações mísseis balísticos de médio alcance. Pequim tem vindo a contestar a hegemonia norte-americana na Ásia-Pacífico, principalmente no Sul do Mar da China, onde está envolvida em disputas territoriais, e, num clima de guerra comercial, a tensão político-diplomática tem vindo a subir de tom.