Patrick Mouratoglou, o treinador de Serena Williams, defendeu que deveria permitir-se a um treinador orientar a sua jogadora durante um encontro e acrescentou que o debate faz-se entre «os tradicionalistas e os modernos».
Ele acredita que deve ser aceitável em todos os torneios e não apenas no circuito WTA (o feminino), o único em que é legal, embora também o seja em competições por equipas como a Taça Davis e a Fed Cup.
No circuito ATP (masculino) é proibido, mas nas Next Gen Finals (o Masters de sub-21) tem sido implementado como teste.
Nos torneios do Grand Slam também não é possível mas o US Open tem-no experimentado nos dois últimos anos no ‘qualifying’ e nos sub-18, com os treinadores a darem indicações das bancadas e não no campo.
Exibições como o World Team Tennis e a Laver Cup também aceitam os treinadores ‘no banco’. Na Laver Cup até os jogadores dão ‘dicas’ e este ano viu-se Federer dar lições a Djokovic e Zeverev.
Portanto, a regra geral proibe o ‘coaching’, mas as exceções são tantas que Mouratoglou tem razão em proclamar a ‘hipocrisia’ reinante.
Os fãs do ténis percebem as diferentes situações. Os adeptos ocasionais poderão considerar tudo isto confuso.
Foi o que aconteceu na polémica final do US Open, despoletada quando o árbitro português Carlos Ramos aplicou uma violação por ‘coaching’ a Serena Williams.
A violação aconteceu, o treinador francês admitiu a infração, a regra foi bem aplicada, mas houve espectadores que não compreenderam.
É preciso uniformizar. Não é bom para a modalidade haver tantas exceções, mas o cenário pode piorar, porque o US Open estuda a hipótese de permitir sempre o ‘coaching’, enquanto Wimbledon é visceralmente contra.
Os torneios do Grand Slam podem criar regulamentos próprios e contrariar as normas gerais do circuito, como acontece com a regra do equipamento branco de Wimbledon.
A presença de treinadores em campo nos tempos mortos valoriza o espetáculo, tanto no estádio como na televisão, sobretudo se forem figuras carismáticas como Noah, Courier, McEnroe ou Borg. Mesmo ‘anónimos’ como Philippe Dehaes, esta semana, em Moscovo, a chamar ‘muralha russa’ a Kasatkina, podem ser espetaculares.
Não sou contra a legalização do ‘coaching’ mas preferiria vê-lo proibido. Concordo com Federer: «O ténis deveria ser uma das únicas modalidades em que o ‘coaching’ não é permitido. É fixe o jogador ter de desembaraçar-se sozinho em campo».
E já que se fala tanto de sexismo, não estará a transmitir-se a ideia de que as jogadoras necessitam de ajuda no campo enquanto os jogadores conseguem pensar pela própria cabeça?