Os eurocéticos europeus estão eufóricos. A situação política corre-lhes bem e tudo aponta para que a sua votação nas eleições europeias de maio de 2019 venha a ser substancialmente superior à de 2014, 60% maior, de acordo com uma análise recente da Reuters às sondagens nos 27 países. Isto mesmo com a partida dos cinco eurodeputados independentistas britânicos, que deixam a União Europeia junto com o Reino Unido no próximo ano.
Tão entusiasmados estão que já começam a pensar na possibilidade de fazer avançar a candidatura de Matteo Salvini, o ministro do Interior italiano, como candidato à sucessão de Jean-Claude Juncker na presidência da Comissão Europeia.
Foi o líder da extrema-direita italiana a aventar essa hipótese esta semana, em entrevista ao La Reppublica, sem esquecer de mencionar tratar-se de uma vaga de fundo e que ele ainda estava a ponderar essa possibilidade. «Amigos de diferentes países europeus já pediram que me proponha», disse.
Salvini está a contar com boa votação da Liga na primavera. Em sete meses, através de uma grande presença nas redes sociais (tem 34 milhões de utilizadores por mês, num país com 46,6 milhões de habitantes), conseguiu duplicar a popularidade do seu partido e superar o Movimento 5 Estrelas (M5E), seu parceiro maioritário na coligação governamental.
Caso se confirme nas urnas o bom momento da Liga, Salvini poderá mesmo emergir como um candidato de peso à presidência da comissão. Um elemento disruptivo num Parlamento mais reduzido pela saída dos britânicos. De acordo com as intenções de voto apontadas pelas sondagens, os dois grupos parlamentares de extrema-direita em Bruxelas poderão passar de 10,4% de lugares do Parlamento Europeu de 751 deputados para 16,9% do total de lugares no novo hemiciclo de 705. Passando de 80 deputados para 120, entre 58 do Europa da Liberdade e da Democracia Direta (dos 45 atuais) e 62 do Europa das Nações e Liberdade (dos 35 atuais, sobretudo por causa da Liga).
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, já afirmou que Salvini é o seu «herói» e Marine Le Pen, a líder da Frente Nacional francesa, criou com ele este mês a Frente da Liberdade, um movimento populista europeu contra a migração em massa e a islamização da Europa. Consequência de um trabalho de aproximação entre os partidos populistas do continente, através de reuniões formais e informais promovidas por Salvini.
Orbán e Salvini reuniram-se em Milão no final de agosto para discutir a formação dessa frente comum anti-imigração e na altura o ministro italiano afirmou: «Queremos mudar a Comissão Europeia. Queremos proteger as nossas fronteiras. Vamos lutar contra as políticas pró-migração apoiadas por [Emmanuel] Macron e [George] Soros.»
Steve Bannon, o homem que ajudou Donald Trump a chegar à Casa Branca e que pretende agora ser a némesis de Soros na Europa, criando um think tank para defender as ideias populistas (chama-se The Movement), encontrou-se com Salvini e definiu-o como «um líder mundial, um símbolo», um político com «grandes ideias».
«Toda a gente concorda que o próximo mês de maio será extremamente importante, será a primeira grande disputa continental entre o populismo e o partido de Davos. Será um momento extraordinariamente importante para a Europa», sublinha Bannon, em declarações ao The Daily Beast.
Bannon observou in loco a campanha eleitoral para as eleições italianas de maio e ficou entusiasmado com a forma como o M5E e a Liga, de Salvini, mesmo com poucos meios conseguiram chegar ao poder. Para ele, Salvini é o modelo para o futuro: «A Itália é o coração pulsante da política moderna», «se funcionar ali pode funcionar em todo o lado».
A maneira como Salvini trabalha as redes sociais, a sua capacidade de falar diretamente com os seus seguidores, mantendo uma relação quase pessoal com todos eles, está próximo da maneira como a campanha de Donald Trump conseguiu fidelizar um suficiente número de seguidores para levá-lo à Presidência dos Estados Unidos. Para Bannon, Salvini já tem esse potencial. Salvini «é como Trump», um «homem de ação», «genuíno» que «leva a cabo o que prometeu na campanha eleitoral».
«É um privilégio que eles vejam em mim um ponto de referência para a defesa dos povos mesmo fora de Itália», afirmou o ministro do Interior Italiano na entrevista ao La Reppublica, sobre aqueles que alegadamente o estão a empurrar para se lançar a outros voos, para lá das fronteiras italianas.
Bannon visitou Itália duas vezes em setembro, a segunda das quais para estar presente na festa anual dos Irmãos de Itália, o outro partido de extrema-direita, que conseguiu 4,3% dos votos nas eleições de 4 de março. O entusiasmo era evidente: «Se aqui funciona a revolução, Itália estará no centro da política mundial». Giorgia Meloni, a líder dos Irmãos de Itália, também já aderiu ao The Movement, fundação que pretende ajudar na partilha de informação e no fomento da colaboração entre partidos soberanistas com perspetivas semelhantes sobre as políticas europeias.
Terceira maior economia da UE depois da saída do Reino Unido, a Itália tem escolhido a política de desafio a Bruxelas desde que o atual Governo de coligação entre o M5E e a Liga assumiu o poder em junho, depois de meses de impasse.
«Têm medo de vocês em Bruxelas», disse Bannon na festa dos Irmãos de Itália, citado pelo El País, «cabe a vocês contrariar esta concentração de poder e dinheiro», lançando-se num discurso contra as elites financeiras e os media mainstream «que adoram cada erro cometido por estes novos Governos».
Salvini modelou a sua campanha eleitoral pelo ‘América primeiro’ de Trump, mas já tem mais empenho dos seus seguidores do que tem o Presidente dos EUA. «A utilização das redes sociais e do Facebook Live (…) é do mais avançado. Fiquei impressionado por ver como ele é sofisticado e como parece geri-lo com meia dúzia de tostões», garante Bannon.