As origens de Francisco d’Eça Leal. Uma família marcada pela arte e pela riqueza

No passado, a arte fez parte da família de Francisco d’Eça Leal. Desde o avô, locutor de rádio, escritor, pintor, até ao pai, conhecido pelas suas obras escritas e desenhadas, o espólio com assinatura D’Eça Leal é vasto. Hoje, Francisco perdeu a fortuna de um milhão de euros herdada do pai e vive sozinho com…

Com descendência de D. Afonso Henriques, o apelido d’Eça Leal começa agora a tornar-se familiar, mas a verdade é que o espólio deixado pela família e que ainda hoje continua vivo é imenso. Se o recente episódio da relação de Francisco d’Eça Leal com Maria Leal revelou o desaparecimento da fortuna de Francisco, a riqueza artística da família não desapareceu. Das pinturas aos livros e filmes, é difícil quantificar quantas obras têm a assinatura D’Eça Leal. Hoje são os restaurantes, escritórios de arquitetura e hotéis que mantêm viva a história da família.

A história de Francisco d’Eça Leal é agora tão conhecida como as histórias do seu avô ou do seu pai eram no século passado. E o dinheiro sempre caracterizou esta família. Logo no início do século, o avô de Francisco, Olavo d’Eça Leal, triunfou no mundo da arte. Poesia, ficção, artes plásticas, teatro radiofónico e cinema foram algumas das suas conquistas e, para quem este nome não diz nada, Olavo d’Eça Leal colaborou com a revista “Contemporânea”, fundada em 1925, onde estiveram também presentes Fernando Pessoa, Almada Negreiros e Amadeo de Souza-Cardoso, por exemplo. Venceu prémios de literatura infantil e, entre muitas obras, escreveu em 1946 um livro que hoje pode ser irónico, com o título “Nem Tudo Se Perde no Ar”. O avô de Francisco era um artista à moda dos anos 20: frequentava cafés, convivia com outros autores e compunha a sua arte. A Câmara de Lisboa prestou homenagem a Olavo d’Eça Leal ao atribuir o seu nome a uma rua da cidade na freguesia de São Domingos de Benfica.

 

O alquimista das ideias

Desde o início, a família é caracterizada pela longa árvore genealógica, fruto dos múltiplos casamentos, o que para a época já era futurista. Do primeiro casamento de Olavo d’Eça Leal nasceu Paulo Guilherme d’Eça Leal, o pai de Francisco. Paulo Guilherme deu continuidade ao trabalho do pai e dedicou-se também à arte. Era conhecido como “o alquimista das ideias”, pela versatilidade e toque de génio em todas as suas obras. A capacidade que tinha para se adaptar a muitas áreas deu-lhe asas para ser arquiteto, escritor, ilustrador, designer de livros, de interiores, de selos e de moedas.

Chegou a desenhar a moeda do centenário da morte de Eça de Queiroz e desenhou capas de livros como “O Grande Gatsby” e “Manhã Submersa”.

Foi responsável pelos projetos de design de interiores do Banco Pinto & Sotto Mayor, no Porto, e de sucessivos projetos de ampliação e de decoração no Aeroporto de Lisboa e no Museu do Centro Cultural de Macau de Lisboa. Desenhou cenários e figurinos para filmes, ganhou prémios de arte gráfica e de publicidade e, em 1988, decidiu prestar uma homenagem ao pai ao realizar um filme de longa-metragem baseado no livro “Iratan e Iracema”, “Os Meninos Mais Mal Criados do Mundo”, que Olavo d’Eça Leal escreveu. No fim, este trabalho trouxe-lhe o prémio Palma de Ouro do Festival de Cinema.

Ainda que o trabalho e todas as conquistas de Paulo Guilherme d’Eça Leal pareçam demasiado para um homem só, a sua ambição não ficou por aqui. Deu um passo à frente e inaugurou o bar Snob, no Príncipe Real, e o bar Snobíssimo, em Cascais.

Quando era desenhador no jornal “O Século” decidiu abrir o Snob, um espaço exclusivo e conhecido no mundo do jornalismo. Albino, atual proprietário do bar, recorda que Paulo Guilherme “subia e descia todos os dias a rua e um dia decidiu comprar. Os jornais eram todos aqui à volta da Rua do Século, então passou a ser o bar dos jornalistas”. Depois de três anos vendeu o bar, mas “continuava a frequentá-lo como cliente”, recorda Albino. Apesar de discreto, Paulo Guilherme vivia, tal como o pai, uma vida boémia e fez questão de deixar a sua marca em muitos dos sítios por onde passou. O restaurante Bachus, junto ao Teatro da Trindade, tem o cunho do seu talento. Hoje, o Bachus transformou-se no conhecido restaurante 100 Maneiras, onde ainda se conserva a arte de Paulo Guilherme, sobretudo no bar e na sala do rés do chão.

Os antecessores de Francisco são recordados através das suas criações e das muitas memórias que deixaram. Todo o dinheiro de Paulo Guilherme passou diretamente para a conta do filho, que hoje não tem nada.

Também a mãe de Francisco estava ligada à arte. Júlia Correia, divorciada de Paulo Guilherme, era atriz e participou em diversas novelas e filmes. A série “Médico de Família” foi o seu mais conhecido trabalho, assim como as colaborações com o realizador Vicente Alves do Ó. Atualmente vive sozinha em Lagos, onde se dedica à pintura e à escultura. Por ser divorciada, não recebeu nenhum dinheiro ou bens da herança do pai de Francisco.

 

Futuro d’Eça Leal

Depois das conquistas no mundo da arte, as novas gerações viraram-se para o futuro. Tomaz d’Eça Leal, fruto do último casamento de Olavo d’Eça Leal, é hoje um arquiteto distinguido por desenvolver projetos turísticos e os filhos também são apaixonados por casas e restauração. Os irmãos Martim, Duarte e Bernardo d’Eça Leal e Afonso Queiroz, este último irmão de Bernardo apenas pela parte da mãe, decidiram entraram no mundo da restauração e dos hostels. Com um investimento de um milhão de euros, os primeiros “The” apareceram no Bairro Alto e Príncipe Real, com o hostel The Independent e com o restaurante The Decadente, respetivamente. O The Independent, um palacete junto ao Miradouro de São Pedro de Alcântara, é o único hostel recomendado no guia de viagem da Louis Vuitton. No ano passado, os criadores de espaços dedicados a viajantes foram também para Gaia, onde têm o “The House of Sandeman”, uma parceria com o grupo Sogrape, onde o objetivo é levar o vinho até ao público mais jovem. Os hostels destinam-se sobretudo a pessoas que gostam de viajar, já que os primos de Francisco, antes de abrirem o negócio, viajaram pelo mundo à procura de ideias. Hoje, o negócio expandiu-se e, neste momento, os irmãos são também proprietários dos restaurantes The Insólito, em Lisboa, o Trincas e o Cobre, e da Guest House Uva do Monte na praia da Aberta Nova, na Comporta.

Hoje, ao contrário dos primos e sob toda a polémica em que está envolvido, Francisco vive num apartamento em Campo de Ourique e sobrevive com uma pensão da Segurança Social. Teve mais de um milhão de euros e, durante o casamento, o dinheiro foi gasto e os bens foram vendidos.