O adeus de Merkel. “É tempo de abrir um novo capítulo”

Perante a segunda descida do partido em eleições regionais no espaço de duas semanas, Merkel anuncia que este será o seu último mandato

No rescaldo das eleições regionais do último domingo, em Hesse, onde o partido conservador  sofreu uma queda acentuada na percentagem de votos, a chanceler alemã Angela Merkel deixou clara sua decisão: não vai recandidatar-se à presidência do seu partido, a União Democrata Cristã (CDU) em dezembro. Ontem, Merkel confirmou também que este é o seu último mandato como chefe de governo. “Não vou procurar nenhum cargo político depois de terminar o meu mandato”, disse a chanceler alemã, numa conferência de imprensa em Berlim, acrescentando que “é tempo de abrir um novo capítulo”. Este anúncio, tendo em conta as circunstâncias em que ocorre, pretende silenciar os críticos do seu partido e reconquistar os eleitores que abandonaram a CDU em favor de partidos como o AFD e os Verdes. No entanto, reflete também a diminuição do seu poder e da sua influência. 

Depois de meses de crise política e de semanas de crise na coligação (devido à descida da CDU/CSU e do SPD nas eleições regionais), Merkel afirmou que não faz parte dos seus planos dar indicações ou intervir diretamente na decisão do sucessor que ficará à frente do partido.

Para já, sobre os possíveis candidatos à liderança, surgem em cima da mesa os nomes de Annegret Kramp-Karrenbauer, que Merkel levou para secretária-geral da CDU, e Jens Spahn, ministro da Saúde, da ala mais à direita do partido. “Esta fase está cheia de possibilidades, e isso é ótimo, porque não as tivemos nos últimos 18 anos”, concluiu a chanceler, que assumiu a responsabilidade “sobre o que correu bem e sobre o que correu mal” e, depois de muita reflexão, decidiu iniciar a sua retirada. As eleições para o próximo presidente da CDU vão ter lugar no congresso do partido a realizar no início de dezembro em Hamburgo. 

O que aconteceu nas eleições regionais?

As eleições regionais do último domingo no estado central do Hesse não foram animadoras para o partido de Merkel. A CDU desceu 11 pontos percentuais, caindo para 27%, o pior resultado no Hesse desde 1966. Também os sociais-democratas do SPD, nacionalmente coligados com a CDU, voltaram a cair nestas eleições, depois do desastre em Berlim, aqui aguentaram melhor, ficando com 19,8%.

Estas eleições seguem um padrão de perda para o partido de Merkel e para o SPD. Mas os grandes vencedores foram os Verdes que, paradoxalmente, partilham o poder com a CDU no estado de Hesse e agora se aproximam do SPD. Embora os Verdes tenham beneficiado da queda dos sociais-democratas, o centro-direita perdeu eleitores para a AFD, partido de extrema-direita. Ainda o impacto da imigração na política alemã ou o desgaste de dois partidos que sempre estiveram no poder sozinhos ou coligados? Merkel interpretou o sinal das urnas como o fim da linha para ela. 

Em reação aos resultados, Volker Bouffier, líder da CDU em Hesse, afirmou que o partido alcançou o objetivo de conseguir liderar o próximo executivo estadual. Ainda assim, está “em dor por causa da perda” eleitoral. “A mensagem aos partidos que governam em Berlim é: as pessoas querem menos disputas e mais convergências nos assuntos importantes”, disse Bouffier.  

Esta é a segunda descida de Merkel em eleições regionais em duas semanas. No início do mês, o partido irmão da CDU na Baviera, a CSU, liderada pelo ministro do Interior, Horst Seehofer, perdeu a maioria absoluta que detinha há décadas no estado. Desceu dez por cento em relação às eleições de 2013, à semelhança do que aconteceu este domingo em Hesse.