O pacto mundial para as migrações das Nações Unidas fica cada vez mais frágil. Depois de os Estados Unidos e a Hungria o terem abandonado, o chanceler austríaco, Sebastian Kurz, anunciou que também o quer por recear que o acordo venha a esbater a linha que separa a migração legal da ilegal, incentivando esta última. “A Áustria não vai aderir ao pacto da migração das Nações Unidas”, disse Kurz. E, como se se tratasse de um efeito dominó, o primeiro-ministro checo, Andrej Babis, anunciou ontem que também o pretende abandonar, revelou o site checo idnes.cz.
Quem não gostou de saber que Viena pretende sair do acordo internacional foi Bruxelas. “Lamentamos a decisão que o governo austríaco tomou. Continuamos a acreditar que a migração é um desafio mundial e que apenas soluções globais responsáveis trarão resultados”, disse uma porta-voz da Comissão Europeia, referindo ainda que Viena desempenhou “um papel extremamente construtivo e fundamental” nas negociações. Opinião partilhada pela representante especial das Nações Unidas para a migração internacional, Louise Arbour: “A questão de que [o pacto] é uma forma odiosa de promover o ‘direito humano de migrar’ não está correta. Não está no texto; não há um projeto sinistro para avançar com isso”.
O Partido Popular de Kurz governa em coligação com o Partido da Liberdade, de extrema-direita, liderado por Heinz-Christian Strache. Nas últimas eleições legislativas, o partido de Strache focou-se quase exclusivamente na chegada de 1,2 milhões de requerentes de asilo à União Europeia, sendo que destes 90 mil pediram-no na Áustria. Viena detém neste momento a presidência rotativa da UE e tem-se aproximado cada vez mais do governo húngaro de Viktor Orbán, defendendo um endurecimento da política europeia para a migração.