Paul Makonda, governador da cidade de Dar es Salaam, na Tanzânia, anunciou a criação de uma equipa de vigilância, com 17 membros, dedicada a descobrir e caçar homossexuais nas redes sociais. Quem conseguirem identificar será detido e poderá enfrentar uma pena de prisão entre 30 anos e perpétua – a homossexualidade ainda é crime no país, segundo lei introduzida no território no período colonial britânico. “Deem-me os nomes deles”, disse Makonda, cristão fervoroso, citado pela AFP. “A minha equipa vai começar a apanhá-los na próxima segunda-feira.” A equipa de Makonda focar-se-á nos perfis de pessoas que viverem na cidade, por limites de jurisdição. “Recebi relatórios de que há muitos homossexuais na nossa cidade e que estão a promover e a vender os seus serviços na internet”, justificou Makonda.
O governador também apelou a todos os tanzanianos para apagarem dos seus telemóveis todos os vídeos e fotos pornográficos que tiverem até ao final desta semana. Caso contrário, poderão sofrer represálias. “As pessoas devem ter a certeza de que apagaram fotografias pornográficas dos seus telemóveis, porque não gostaria de ver uma figura pública ser presa por causa de fotos”, disse o governante.
A homossexualidade sempre foi um tabu moral na Tanzânia e severamente punida, mas desde 2015, com a eleição de John Magufuli para a presidência, que a retórica anti-gay subiu significativamente de tom. Por exemplo, o vice-ministro da Saúde e médico de profissão Hamisi Kigwangalla defendeu no Twitter, em 2017, que o governo devia publicar uma lista com os nomes de suspeitos homossexuais no país. “A homossexualidade não é biológica, é contranatura”, escreveu na altura. “Liberdades e direitos têm limites e ambos estão protegidos por lei! A lei da Tanzânia tem limites no que toca à sexualidade”, acrescentou, quando questionado por um internauta.
Com receio de serem condenados a penas de prisão, muitos homossexuais veem-se forçados a terem de se esconder. Várias clínicas especializadas no tratamento do HIV foram entretanto obrigadas a fechar pelas autoridades, sob a acusação de promoverem a homossexualidade.
Questionado sobre se a crescente repressão contra a comunidade LGBT no país não iria colocar o país em rota de colisão com a comunidade internacional, Makonda limitou-se a responder que prefere “enfurecer outros países a Deus”.
Não é só na Tanzânia que a homossexualidade é criminalizada. Também o Uganda e a Zâmbia o fazem, com casos de violação de direitos humanos a serem comuns.