Por detrás de uma mãe com pele de cordeirinho muitas vezes há um lobo à espera para atacar… de preferência uma outra mãe. Para assistir a rixas destas, que chegam a atingir níveis bastante desagradáveis, basta entrar em alguns grupos de mães do facebook e esperar.
Estes grupos foram criados para fomentar a entreajuda entre mães no seu desafiante e imprevisível papel, partindo do princípio que seria usado de forma sensata e solidária. Mas não é bem isso que acontece. Geralmente, à mais simples publicação a pedir ajuda – até mesmo a oferecê-la – as participantes iniciam o ataque. Não se baseiam na questão, mas nos pormenores e criticam de forma arrogante e sobranceira. Humilham e dizem coisas que imaginam serem rasgos de genialidade com uma determinação voraz, característica das mulheres que tudo sabem e que se julgam máximas detentoras da razão. Ofendem com uma estranha agressividade, partindo do princípio que a sua forma de pensar é a única certa, não admitindo que formas de pensar diferentes possam ser válidas para os outros. Podiam remeter-se ao silêncio, se não têm nada de útil para oferecer, se nem conhecem a pessoa em questão, mas não, respondem e atacam como se a pobre participante lhes suscitasse algum ódio. E muitas vezes juntam-se várias vozes em uníssono numa espécie de bullying que tanto criticam nos mais novos.
É curioso como se pode criticar outra pessoa de forma ofensiva sem a menor noção de que o testemunho deixado é na maioria das vezes bem mais condenável do que aquilo que se ataca.
Ainda no campo dos bons valores vem a propósito o último fim-de-semana em que alguns hipermercados tiveram os brinquedos com 50% de desconto. As mães, movidas pelo espírito natalício e a necessidade de poupança, invadiram estes espaços a pensar na alegria que poderiam dar aos mais novos oferecendo-lhes aquilo que mais desejam a preços bem mais acessíveis. Mas o entusiasmo foi tanto, que em mais um ano, sobrou pouco espaço para a educação e o respeito. Houve brigas pela disputa do último brinquedo, pilhagem de carrinhos com brinquedos que já não se encontravam nas prateleiras e até o roubo de produtos já depois de terem sido pagos. Ou seja, um espetáculo indigno e pouco adequado à época natalícia. Serão algumas destas mães aquelas que são ótimas a dar lições de moral às outras a partir do telemóvel?
Pergunto-me que valores poderão transmitir aos seus filhos. Com que moral os podem criticar se tiverem comportamentos semelhantes. Ou com que tranquilidade irão oferecer um brinquedo roubado.
Talvez os filhos ganhassem mais no Natal recebendo menos presentes de mães com maior dignidade, no mesmo sentido que se assustariam se vissem alguns comentários menos simpáticos. Felizmente a pele de cordeiro ainda tapa alguma coisa ou rapidamente perceberiam que muitos dos valores que lhes tentam incutir afinal só existem para os outros/só têm lugar na ponta da língua.