Há muitos anos que a floresta se transformou num negócio e o que não faltam são produtores florestais que encontram na plantação de eucaliptos uma verdadeira galinha dos ovos de ouro. E uma coisa é certa: o eucalipto é a espécie que ocupa mais área em toda a floresta portuguesa. Os números não enganam. No entanto, também a polémica em torno desta espécie é enorme e tem vindo a aumentar. Há cada vez mais defensores de que esta espécie é e será sempre muito problemática. A cultura de eucaliptos é frequentemente apontada como sendo um dos fatores potencializadores dos incêndios. E a isto soma-se o risco de elevado consumo de água e erosão dos solos. A posições são claras e a divisão entre opositores têm-se acentuado.
Agora, a polémica volta à agenda mediática e ganha nova força com mais de uma centena de entidades e personalidades, entre as quais a Confederação dos Agricultores de Portugal e os ex-ministros Bagão Félix e António Serrano, a dar rosto a um manifesto por uma floresta não discriminada onde defendem a importância do eucalipto.
«Os signatários têm vindo a assistir, com grande preocupação, à multiplicação em diferentes meios de comunicação social de alusões pouco rigorosas, ou mesmo manifestamente incorretas, sobre a gestão da floresta e as causas dos incêndios em Portugal», começa por explicar o manifesto, assinado quer por académicos como por empresas do setor, autarquia e associações florestais.
«Esta preocupação é agravada pelo facto de muitas das afirmações pretenderem, sem qualquer fundamento, imputar ao eucalipto a responsabilidade pelo drama dos incêndios florestais, impedindo desta forma que os esforços se centrem no combate às suas verdadeiras causas».
No documento fica ainda claro que há motivos para os incêndios. Mas não estão necessariamente ligados às espécies plantadas: «As verdadeiras causas dos incêndios estão essencialmente na excessiva carga de biomassa no terreno, em resultado do reduzidíssimo nível de gestão da floresta e do excesso de matos e de incultos no território português».
Entre outros argumentos usados por este grupo que se juntou na defesa da importância do eucalipto está o facto de «o ataque que se tem registado contra o eucalipto promove a desertificação do interior e das zonas rurais do país, colocando em risco grande parte dos postos de trabalho diretos e indiretos existentes na fileira florestal, distribuídos por pequenos produtores, prestadores de serviços, empresas de logística e industriais».
O peso das papeleiras
A indústria do papel tem mostrado, desde sempre, descontentamento em relação à política para a plantação desta espécie. As maiores empresas do país chegaram mesmo a admitir um travão nos investimentos caso o eucalipto continuasse a ser diabolizado.
Na raiz do problema está o facto de a indústria consumir, em Portugal, cerca de 8,5 milhões de metros cúbicos de madeira de eucalipto por ano, sendo necessário importar dois milhões devido à insuficiência da floresta nacional – argumentos velhos que levaram a um novo problema: o setor quer aumentar a produção.
No meio de todos os argumentos, usados quer por quem defende o eucalipto ou por quem o ataca, está o facto de os lucros da indústria serem uma parte importante da equação. Este ano, as empresas do setor tiveram várias vezes motivos para sorrir.
A meio do ano, por exemplo, falar das cotadas do setor da pasta do papel era falar das estrelas da bolsa nacional. O ano arrancou, aliás, com resultados históricos. É verdade que, no geral, pode dizer-se que as empresas da bolsa portuguesa arrancaram 2018 com o pé no acelerador quando o assunto é lucrar. Nos primeiros três meses do ano, ganharam ao todo 765 milhões de euros. Foram mais 130 milhões, ou seja, mais 20%, do que no mesmo período do ano anterior.
Em destaque estavam as empresas da indústria do papel. Altri, Semapa e Navigator viram os lucros dispararem. No caso da primeira, por exemplo, pode dizer-se que, até setembro, a produtora de pasta de papel registou um aumento do volume de negócios para 583,6 milhões de euros. Só no terceiro trimestre, os lucros da produtora de pasta de papel atingiram os 46,6 milhões de euros, o que significa um aumento de 76,3% face aos 26,4 milhões registados no período homólogo de 2017.
Também a Navigator viu as contas melhorarem. Neste caso, os lucros aumentaram 18% entre janeiro e setembro, um período em que a descida das vendas foi compensada pelo aumento dos preços. Os nove primeiros meses do ano acabaram assim por fechar com um resultado líquido de 171,8 milhões de euros, o que representa uma subida de 17,8% face ao mesmo período do ano passado.