As empresas de camionagem portuguesas estão solidárias com o protesto dos camionistas franceses e até já estão a pensar num protesto semelhante para breve em Portugal. Quem o diz é Márcio Lopes, presidente da Associação Nacional das Transportadoras Portuguesas (ANTP), em entrevista ao i. Depois de várias reuniões inconclusivas com o secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme W. d’Oliveira Martins, a ANTP acusa o governo de prometer e não cumprir, de falta de legitimidade política e de estar a “lixar a vida” às empresas de transportes. Desde 5 de junho que a ANTP tem um caderno reivindicativo com 18 pontos (onde se inclui a descida do preço dos combustíveis, incentivos no gasóleo profissional, faturação a 30 dias, etc.) e que ainda hoje não conseguiu que fosse respondido de forma satisfatória pelo governo de António Costa. Ontem à noite tinham mais uma reunião agendada com o secretário de Estado, já depois de este texto ter sido escrito, mas Márcio Lopes estava descrente de que pudesse resultar nalguma resposta positiva para as transportadoras.
Sempre se reuniram com o secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme W. d’Oliveira Martins, na segunda-feira? Quais foram as conclusões?
Tivemos essa reunião, concluímos que iríamos fazer reuniões de trabalho. Hoje [ontem] já tivemos mais duas reuniões e estamos a preparar-nos para a última. Não avançámos nada até agora. Só promessas que não trazem, para já, nada ao setor.
Estão dispostos a avançar para o protesto?
Sim.
Quando?
Não temos ainda data definida, mas será para muito em breve,
Quais foram as exigências que fizeram ao governo e quais foram atendidas?
Nenhuma foi atendida. A principal exigência era ter um preço mínimo para podermos trabalhar e ganhar dinheiro. Depois, queríamos poder faturar e receber a 30 dias obrigatoriamente, sem exceções. Queríamos também uma paragem na emissão de novos alvarás para que o setor possa reorganizar-se. Ter uma regulamentação apropriada e atualizada e nova legislação para o setor.
E qual tem sido a resposta do secretário de Estado?
O secretário de Estado respondeu que “sim, senhor, vamos trabalhar, vamos fazer”, mas é o normal que a gente ouve, “vamos trabalhar, vamos fazer”, mas quando vai ser feito é a parte mais difícil.
Qual é a vossa posição em relação ao protesto dos coletes amarelos em França?
É um país onde têm alguma consistência naquilo que pretendem. Falando no preço do combustível em comparação ao que ganham de ordenado mínimo, então em Portugal já deveríamos ter feito o protesto dos coletes amarelos, dos pretos, dos roxos, dos vermelhos e de tudo o mais por aí fora. Na realidade, nós estamos a pagar mais do que eles e a receber três vezes menos. Eles estão no direito de fazer o que estão a fazer. Claro que há sempre desorganizações e inconvenientes, de lamentar a morte de um manifestante, a morte do outro senhor que estava na ambulância e que não deixaram passar. Mas a realidade é que eles estão a lutar por aquilo que querem, estão a fazer o que deve ser feito. Se nós lutamos para que um governo seja eleito para trabalhar, não é para que vá para lá lixar-nos. E aquilo que o governo está a fazer até hoje é lixar-nos a vida. O governo esquece-se que quem paga aos cidadãos são as empresas e não olha de maneira nenhuma para os empresários. É inadmissível que tenhamos no nosso país uma taxa sobre os veículos tão alta – nem sequer conseguem diferenciar os veículos fabricados em Portugal – que nos custa imenso dinheiro comprar um carro novo. E depois querem um parque automóvel com melhor qualidade! É impossível quando um carro custa um balúrdio comparado com os outros países da União Europeia. Por exemplo, baixou o preço do petróleo e nós estamos a pagar o gasóleo mais alto do que estávamos. É inconcebível! Os portugueses andam hipnotizados com um governo que não tem legitimidade para lá estar, que anda a fazer o que quer do país, e nós à espera de melhores dias. Mas se não fizermos nada, esses melhores dias nunca irão chegar.
Em relação ao protesto em França, quantos camionistas portugueses foram afetados?
Afetados estão a ser praticamente todos. Já fecharam a fronteira de Irún e aos que estão na paralisação faltam-lhes mantimentos, condições mínimas de higiene.
Estamos a falar de quantos camionistas?
Se calhar temos para lá 15 mil motoristas.
E há motoristas que foram para lá participar mesmo no protesto?
Têm todos de participar, eles não andam para lado nenhum. O que há a realçar é que, lá, todos param, em Portugal é que ainda não.