“Se não fosse o espetáculo tauromáquico, a raça brava de lide já teria desaparecido”

Francisco Palha, um toureiro português, defende que a atividade tauromáquica mantém a raça e é também cultura e tradição

O toureiro Francisco Palha, de 31 anos, numa entrevista à Magg, deixou claro o seu descontentamento com as mais recentes palavras da Ministra da Cultura, Graça Lopes, sobre as touradas e sobre o papel destas na cultura e noecossistema.

Na entrevista, o toureiro considerou a posição da ministra uma “afronta”, “discriminação negativa sem sentido contra a tauromaquia” e “anticonstitucional” – posição que defende que o IVA nos espetáculos tauromáquicos deve ser 13%, ao contrário dos outros eventos considerados de teor cultural – e referiu que o Presidente da República deve interferir nesta situação, de forma a que seja corrigida “a barbaridade”.

Para o cavaleiro, no confronto entre o touro e o homem está presente “ética e estética”, admitindo que já matou touros e, mesmo assim, considera a tauromaquia um ato cultural. Além disso, acredita que esta é também uma forma de preservar a raça em causa neste evento. A conhecida “Festa Brava” é vista como “ética” para Francisco Palha, uma vez que há “regras em que o toureio se baseia e das quais a principal é o homem dar sempre vantagem ao toiro, no ataque e na defesa”.

Durante a conversa com o site online, Francisco Palha referiu que a vida de toureiro nem sempre é fácil: “Umas vezes ganha para as despesas, outras nem tanto. Mas, na verdade, salvo uma ou outra exceção, não se ganha o suficiente para se chegar a ser rico”, disse. Portanto, para além das arenas, o cavaleiro comercializa e monta cavalos. “ Penso que hoje em dia, praticamente todos os toureiros têm de ter uma vida paralela. Tourear é muito dispendioso. Não se pode viver só disso”, admitiu.

De acordo com Francisco Palha, um dos “temas mais sensíveis tem a ver com o sofrimento do touro”, afirmando quenunca teve uma discussão sobre o assunto mas já se deparou com manifestações anti-tauromáquicas.

“Se não fosse o espetáculo tauromáquico, a raça brava de lide já teria desaparecido e seria uma recordação como, não digo os dinossauros, mas pelo menos como os mamutes”, defende o profissional, ao mesmo passo que explicava: “Otouro de lide, que só vai à praça dos 3 para os 4 anos de idade, existe porque existe o espetáculo tauromáquico, que lhe garante a sobrevivência enquanto espécie e o aproveitamento de um ecossistema onde outra raça ou cultura do solo (por serem solos pobres) não sobreviveria. O espetáculo está em sublimar e submeter, pela arte do cavaleiro, do matador ou do forcado, a força bruta do animal”

Sobre o espetáculo que é feito na arena, Francisco Palha também deixou a sua opinião bem assente: “Acredito que sentem a picada da bandarilha como nós sentimos a picada de um alfinete. A questão é interpretar a reação do toiro.Se é bravo persegue e tenta ‘ajustar contas’ com quem lhe cravou a bandarilha. Se é manso salta, defende-se e acobarda-se”, explica.

Para o toureiro, quando chega a hora de entrar na arena “não há ninguém que não tenha medo”, no entanto deixa a palavra adrenalina no ar. “Quando toureamos (…) é uma adrenalina única. É a melhor coisa de sempre”.

“O que eu mais gosto é de fazer as pessoas felizes, os aficionados felizes. Eu fui nascido e criado no campo, portanto a vida não faz sentido nenhum sem touros”, disse o toureiro à MAGG.

Francisco Palha explica ainda que “enfrentar um toiro constitui, desde logo, uma situação de risco de vida”, e relembraum episódio em que teve de tourear de mão partida porque caiu do cavalo e, ainda um  outro  que aconteceu no passado mês de agosto: “Parti uma perna e fiz 12 corridas assim. Tirava o gesso antes de entrar e depois, no final, tinha de colocá-lo novamente”.

Quanto às pessoas que são contra a “Festa Brava”, Francisco Palha considera que os anti-taurinos atacam os cavaleiros “com base em premissas falsas e com documentação manipulada”.

Quanto à possibilidade das touradas serem abolidas, o mesmo afirma:”Se as touradas forem abolidas com o argumento de que os toureiros matam os toiros, a pesca e outras atividades terão também de ser abolidas porque o pescador mata o peixe, o caçador mata na caça, etc. No limite, quando fossemos todos vegetarianos, este problema colocar-se-ia também aos vegetais (igualmente seres vivo), que morrem às mãos dos humanos e, por aí em diante, até ao absurdo”.