Nem a indignação, provocada por crianças migrantes a fugirem do gás lacrimogéneo disparado contra a multidão que tentava cruzar ilegalmente a fronteira de San Ysidro no domingo, travou o presidente dos Estados Unidos de tentar retirar dividendos da tensão na fronteira com o México para conseguir financiar uma das suas mais simbólicas promessas de campanha, a construção de um muro na delimitação geográfica com o México. Ao mesmo tempo que ameaçava com encerrar a fronteira “permanentemente, se for preciso”.
Acusando muitos dos migrantes da coluna (cerca de 8200 pessoas, de acordo com os últimos cálculos) que tenta cruzar a fronteira de serem “criminosos empedernidos”, Trump avisou no Twitter as autoridades mexicanas que fechará os passos fronteiriços entre os dois países se o México não devolver os migrantes aos seus países. “Façam-no de avião, façam-no de autocarro, façam como quiserem, mas eles NÃO entram nos EUA”, escreveu. “Fecharemos a fronteira permanentemente se for preciso”, acrescentou o chefe de Estado, ao mesmo tempo que enviava o recado ao congresso: “Financiem o MURO!”
A Casa Branca quer cinco mil milhões de dólares no próximo ano fiscal para financiar a construção do muro, numa altura em que o congresso está a discutir um acordo para evitar o encerramento parcial do governo federal a partir de 7 de dezembro.
Uma proposta com pouco capital político neste momento, depois das imagens de crianças obrigadas a fugir do gás lacrimogéneo que circulam desde domingo. “Disparar gás lacrimogéneo contra crianças não é o que os americanos fazem”, escreveu no Twitter Tom Perez, presidente do Comité Nacional Democrata. “Procurar asilo não é um crime. Temos de ser melhores do que isto”, acrescentou o político.
No domingo à noite, a administração dos EUA justificou a reação dura na fronteira: “Alguns destes migrantes tentaram romper a infraestrutura de cercas ao longo da fronteira e procuraram atingir o pessoal [da guarda fronteiriça] lançando projéteis contra eles”, afirmou a secretária de Segurança Nacional, Kirstjen Nielsen. “Tal como já afirmei muitas vezes, o Departamento de Segurança Nacional não tolerará este tipo de ilegalidade e não hesitará em fechar as portas de entrada por razões de proteção e de segurança pública”, acrescentou. A fronteira de San Ysidro, entre Tijuana e San Diego, uma das mais movimentadas do mundo, esteve temporariamente encerrada no domingo para “assegurar a segurança pública”.
Trump quer que os migrantes aguardem em território mexicano pelo desfecho dos seus pedidos de asilo nos EUA, algo que o presidente eleito do México, Andrés López Obrador, cujo mandato começa a 1 de dezembro, fez saber, através da sua porta-voz e futura ministra do Interior, Olga Sánchez Cordero, não está disposto a aceitar.