Portugal deve ter um dia para lembrar as vítimas da Inquisição? Deu entrada na Assembleia da República uma petição que visa a criação de um memorial a estas pessoas, que seria construído em frente ao Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.
E porquê este local? Foi ali que, durante anos, funcionou o tribunal da Inquisição de Lisboa, condenando à morte milhares de judeus. O historiador Jorge Martins, autor desta petição, explicou à Sábado que, durante os três séculos em que a Inquisição vigorou em Portugal, deram entrada mais de 45 mil processos nos vários tribunais espalhados pelo país – muitos terminaram em autos de fé, com os condenados a serem queimados na praça pública.
A petição deu entrada no parlamento a 17 de março de 2018. Francisco Louçã, Maria de Belém, Francisco José Viegas e Richard Zimler são algumas das figuras públicas que assinaram esta petição, que pede que seja estabelecido o Dia da Memória das Vítimas da Inquisição a 23 de maio. Não se trata de uma data aleatória: esta é o dia em que, em 1536, se estabeleceu a Inquisição em Portugal, através da bula papal Cum ad nil magis.
"A maioria da população portuguesa não faz ideia da dimensão perniciosa da ação" do Santo Ofício, criado para "prender e castigar os judeus que tinham sido baptizados contra a sua vontade em 1497, embora acabasse por também perseguir outras vítimas, tais como muçulmanos, protestantes, ateus, homossexuais, feiticeiras e bígamos”, explicou o historiador, que considera ser importante assumir "o papel negativo da Inquisição em Portugal e nas ex-colónias, especialmente o Brasil, e honrar e preservar a memória de centenas de milhares de portugueses que sofreram, direta ou indiretamente, a sua perseguição".