O Vox vivia uma crise profunda quando Francisco Serrano, antigo juiz de Sevilha, aderiu ao partido em 2014. Nessa altura, o partido de extrema-direita mantinha-se nas margens e mostrava-se incapaz de cumprir com o objetivo que levou à sua fundação: afirmar-se como alternativa aos eleitores desiludidos com o Partido Popular, então liderado por Mariano Rajoy, que implementava austeridade. Não o conseguiu fazer e o espaço que o partido almejava veio a ser ocupado pelo Ciudadanos, um pequeno partido formado em 2006 na Catalunha.
Serrano aderiu ao partido e aliou-se a Santiago Abascal, que, por sua vez, substituiu na presidência do Vox o seu fundador, Alejo Vidal Quadras. Com a nova liderança, a força política virou bruscamente da direita conservadora para a extrema-direita, alinhando-se com outros movimentos no continente. A crise independentista catalã revigorou o franquismo e o espanholismo, criando a oportunidade para o Vox emergir como alternativa à direita. E Serrano é um dos rostos dessa viragem política.
Com 53 anos, o antigo juiz foi um dos deputados eleitos pelo Vox para o parlamento regional da Andaluzia nas eleições deste domingo. Tornou-se conhecido por ter sido afastado da jurisprudência espanhola ao mudar as férias de um menor sem o conhecimento da mãe, que tinha a sua custódia. Levou o combate contra a sua saída até ao Tribunal Constitucional e, em 2016, foi finalmente afastado do cargo por dois anos. Dedicado à política, afirma-se como “católico, espanhol, defensor da vida e da família”, e os movimentos feministas e LGBT tornaram-se nos seus principais alvos, não ignorando a esquerda. Opõe-se ao aborto e aos homossexuais e lésbicas terem os mesmos direitos que os restantes cidadãos. E nem as mulheres escapam às suas críticas.
Uma das suas propostas, a que mais celeuma originou em Espanha, é revogar as leis da violência de género, optando por outras que estipulem a violência intrafamiliar. Recorde-se que as decisões dos tribunais espanhóis sobre casos de violação levaram milhares de mulheres para as ruas espanholas em protesto. Serrano considera que a justiça parte sempre do pressuposto que a mulher é a agredida e que o homem é agressor e isso é o que ele quer mudar, como escreveu no seu livro “Ditadura de género”, de 2012.