Ainda não tinham passado 24 horas desde o motim no Estabelecimento Prisional de Lisboa quando no Porto, em Custoias, os reclusos decidiram demonstrar o seu descontentamento com a greve dos guardas prisionais. Ontem, ao princípio da tarde, os prisioneiros recusaram regressar às suas celas, como forma de protesto contra os impactos negativos que as sucessivas greves de guardas prisionais estão a causar, nomeadamente nos horários das visitas.
Para controlar a situação, os guardas tiveram de disparar várias balas de borracha.
Segundo o i apurou nas imediações da prisão, o Grupo de Intervenção e Segurança Prisional (GISP) foi mobilizado para o local como forma de prevenção. Além disso, a PSP também foi chamada para o local.
A situação chegou a causar algum desconforto entre os familiares dos reclusos, que receavam não poderem visitá-los. Contudo, por volta das 16h, os reclusos já tinham sido colocados nas celas, após uma “intervenção musculada” do Grupo Antimotim da Cadeia de Custoias. Esta intervenção resultou em vários feridos e o i sabe que um deles teve mesmo de ser tratado na enfermaria da prisão. Como consequência, as visitas habituais acabaram por ser suspensas.
Tudo começou quando os reclusos recusaram almoçar, tendo atirado fruta e outros objetos para os pisos inferiores da prisão. Além disso, deitaram-se no chão e recusaram voltar às celas – o que só ocorreu depois do uso da força por parte do grupo antimotim do próprio Estabelecimento Prisional do Porto.
Jorge Alves, presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SNCGP), disse ontem à Lusa que quando foram chamados para almoçar, os reclusos de três pavilhões se recusaram a ir para o refeitório: “Inicialmente, os reclusos sentaram-se à porta das celas recusando-se a ir almoçar. De seguida é que começaram a atirar fruta e outros objetos dos pisos superiores cá para baixo.”
O responsável disse ainda que se suspeita que este protesto tenha sido “um ato de solidariedade com os presos do Estabelecimento Prisional de Lisboa”.
Motim em Lisboa
Na terça-feira, vários reclusos atearam fogo a caixotes do lixo da ala B do Estabelecimento Prisional de Lisboa e atiraram materiais dos andares superiores do estabelecimento. O cancelamento do horário das visitas esteve na origem do motim.
Júlio Rebelo, do Sindicato Independente do Corpo da Guarda Prisional (SICGP), explicou ao i que tudo aconteceu porque as visitas tiveram de ser canceladas para que o plenário dos guardas prisionais – que estão em greve desde o passado dia 1 de dezembro – decorresse. “Os reclusos deveriam ter visitas e foi marcado um plenário de guardas prisionais para a mesma hora”, reiterou.
O sindicalista disse ainda que os reclusos “não devem ter sido avisados” que as visitas tinham sido canceladas, justificando assim o motivo da revolta.
O CDS pediu a “audição urgente” da ministra da Justiça no parlamento para debater os recentes motins nas prisões de Custoias e de Lisboa. De acordo com o requerimento, os centristas exigem a presença de Francisca Van Dunem na comissão parlamentar de Justiça, “a fim de prestar esclarecimentos sobre o que motivou estes protestos e qual foi a atuação dos serviços prisionais para pôr fim a estes protestos”.