Manifestações há sempre, lembra Hermano Sanches Ruivo, vereador da Câmara de Paris, é algo que a capital francesa está habituada: «Algumas delas acabaram mal, por variadíssimas razões». Aliás, lembra, estamos assinalar os 50 anos do maio de 68. A questão do «mal que hoje pode acontecer», nem sequer «vem da própria raiva contida e justificada pela falta de poder de compra», mas dos «grupos que vêm para partir, os grupos que vêm atacar as instituições porque é uma forma de desestabilizar». «Essa é a parte que realmente nos preocupa», confessa ao SOL o vereador executivo de Paris.
O Governo anunciou a mobilização de 89 mil homens, oito mil só em Paris, e o uso de «meios excecionais» para lidar com as manifestações agendadas para hoje em várias partes de França. Vários blindados da gendarmaria serão colocados em locais estratégicos de Paris e da região parisiense. Fale-se com quem se fale, o medo e o receio pairam sobre as conversas. Elisabeth Oliveira, que lidera a associação de porteiros e porteiras de Paris, a ALMA, diz ao SOL que a câmara aconselhou aqueles que trabalham em edifícios na zona dos Campos Elíseos e dos seus arredores a não colocarem os caixotes do lixo na rua para evitar que sejam queimados pelos manifestantes.
Lojas, museus, monumentos emblemáticos como a Torre Eiffel vão estar encerrados. Muitos dos que vivem nas zonas onde houve violência na semana passada, e têm essa possibilidade, foram visitar familiares, dormir em hotéis.
Sanches Ruivo vinha de uma reunião do gabinete de emergência da câmara quando falou com o SOL por telefone desde Paris. Discutiu-se o fecho dos mercados habitualmente abertos ao sábado e domingo de manhã, discutiu-se a possibilidade de encerrar temporariamente os mercados de Natal em alguns pontos da cidade, os serviços das juntas de freguesia nos bairros.
«Pode haver mais violência do que na semana passada. Porque na semana passada, a violência acabou por ficar concentrada essencialmente nos Campos Elíseos, algumas ações junto da Ópera e da Rua La Fayette», diz o vereador. Na monitorização das redes sociais que são, desde o princípio, o meio mobilizador dos protestos dos coletes amarelos, consegue perceber-se que há convocatórias para protestos em outras zonas de Paris.
«Eu sou eleito pelo 14.º bairro, a Place Denfert-Rochereau, que eu próprio como estudante já utilizava para as manifestações há 20 anos, é um dos pontos, Montparnasse é outro ponto, se juntarmos a Bastille, se juntarmos Nation, se juntarmos a Place de l’Italie, se juntarmos a Praça da República, além dos Campos Elíseos, é óbvio que se multiplica o espaço em que algo pode acontecer e onde podemos recear que algo de mal aconteça e que haja mais desacatos», explica o político socialista.
«Essa é a visão que nós temos e a polícia também, de resto são quatro mil polícias a mais do que a semana passada em Paris», refere o vereador. «Melhor é não acontecer, mas todos estão com essa preparação», acrescentou.
Anne Hidalgo, a presidente da Câmara de Paris, reuniu-se com as estruturas representativas dos comerciantes esta semana, depois do encontro com o primeiro-ministro, Édouard Philippe, e com o ministro do Interior, Christophe Castaner.
«O comércio está a sofrer, não estamos como nos dias a seguir aos atentados, mas estamos com uma quebra a todos os níveis», refere Sanches Ruivo. «A nossa indicação muito clara para os comerciantes em Paris é a de não abrirem as portas amanhã, não abrirem as empresas e as lojas», referiu.
O Governo admitiu na quarta-feira, citado pela AFP: «Temos motivos para temer uma grande violência», Isto apesar de o Presidente Emamnuel Macron ter anunciado que, afinal, já não iria suspender por seis meses a aplicação da taxa sobre os combustíveis – o rastilho para a explosão de protestos que desde meados de novembro tomou as ruas de França. O ministro do Interior anunciou que foram encontradas armas durante as investigações sobre os distúrbios no passado sábado e agora teme-se que na violência de hoje possa haver tiros. Uma pessoa foi presa por anunciar nas redes sociais a sua vontade de «matar a República».
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