May quer voltar a abrir acordo que UE já fechou

A primeira-ministra britânica visitou três capitais europeias para tentar reabrir as negociações e salvar o acordo para o Brexit, que será votado na Câmara dos Comuns até 21 de janeiro

O antigo primeiro-ministro conservador John Major defendeu hoje que o artigo 50 do Tratado da União Europeia – que estipula a saída britânica do projeto europeu – deve ser “revogado com efeito imediato” para evitar o “caos”. “Sair [da UE] é uma retirada, não uma libertação”, criticou Major, afirmando ser preciso ganhar tempo, “o bem mais precioso” de que se dispõe.

Bem precioso que a primeira-ministra britânica, Theresa May, não dispõe em abundância para que se aprove o acordo do Brexit na Câmara dos Comuns – ontem Downing Street revelou que a votação será feita até 21 de janeiro, algo já conhecido há mais de uma semana. Como cada hora conta, May visitou ontem três capitais europeias para se encontrar com o líderes europeus e, hoje, estará em Dublin para se reunir com o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar. A governante britânica tenta que os chefes de Estado e de governo europeus, bem como o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, aceitem reabrir as negociações para salvar o acordo com Bruxelas que demorou 18 meses a finalizar. 

De manhã esteve na Holanda, onde tomou o pequeno-almoço com o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, e à tarde encontrou-se – depois de ter ficado trancada na limusine e sido alvo de piadas – com a chanceler Angela Merkel e com a recém-eleita da CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer, em Berlim. Ao final da tarde de ontem viajou para Bruxelas, onde se reuniu com  Juncker. 

May não foi bem sucedida em nenhum dos encontros, ainda que tenha dito haver “determinação mútua” para tranquilizar os deputados britânicos sobre a garantia para a fronteira da Irlanda do Norte. Rutte não deu grandes pormenores, limitando-se a afirmar que tiveram um “diálogo proveitoso”. Já Merkel nem lhe deu espaço de manobra, com a Reuters a avançar que a chanceler ter-lhe-á garantido não haver qualquer hipótese de mais negociações.

Horas antes de May aterrar em Berlim, já Juncker lhe deixava avisos no Parlamento Europeu: “O acordo que alcançámos é o melhor acordo possível – é o único acordo possível”. Garantindo, porém, que existe “margem de manobra, se usada de forma inteligente”, para se “clarificar e interpretar” o acordo.

O primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, voltou a referir ontem que o acordo está fechado, mas que quer ajudar o Reino Unido a melhor clarificar as salvaguardas do acordo, sem com isso alterar o acordo na sua substância. Daí, que ao ser pressionado pelo Sinn Féin, principal partido da oposição, para convocar um referendo sobre o futuro estatuto da Irlanda do Norte, tenha referido: “Exigências de unidade irlandesa e referendos sobre a fronteira são perturbadores e destrutivos quando se tenta alcançar o que estamos a tentar alcançar, que é a ratificação deste acordo”.

Varadkar recusou e garantiu que não tomará medidas preventivas sobre o futuro da fronteira entre as duas Irlandas até  os planos de contingência europeus estarem finalizados – algo que não acontecerá até meados de janeiro.

No Reino Unido, o Partido Nacional Escocês (SNP), os Democratas Liberais, o Plaid Cymru – partido do País de Gales – e os Verdes escreveram uma carta a apelar a Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, para que apresente uma moção de censura contra May. “A incapacidade do governo em aprovar o seu acordo do Brexit no parlamento, como testemunhado ontem [segunda-feira] e a moção [de adiamento da votação] de May não deixam outra opção aos líderes dos partidos da oposição que não seja apresentar uma moção de censura”, diz a carta, convidando Corbyn a juntar-se aos signatários. 

Corbyn voltou a rejeitar o desafio – na segunda-feira o SNP tinha-lhe feito um semelhante – dizendo que apenas apresentará uma moção de censura “no momento apropriado”, ainda que “não tenha confiança neste governo”.