O Reino Unido vai precisar de adiar a saída da União Europeia para além de 29 de março de 2019, para que as negociações sobre as condições do Brexit continuem, ou mesmo pera que se realize um novo referendo, defende o antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair.
"A Europa deve preparar-se para a possibilidade em vias de se transformar na probabilidade de o Reino Unido precisar de uma extensão de tempo para o processo do Artigo 50.º, seja para continuar a negociar ou, o mais provável, conduzir um novo referendo", afirmou Tony Blair, num discurso associado à campanha People's Vote, que reivindica uma nova consulta popular.
A campanha People's Vote baseia-se na tese de que os eleitores que votaram pela saída em 2016 não tinham noção das consequências, e defende por isso um novo referendo à saída do Reino Unido da União Europeia.
O discurso de Tony Blair é dirigido aos líderes europeus reunidos, esta sexta-feira, numa cimeira em Bruxelas, o antigo primeiro-ministro britânico apela a que, em vez de facilitarem um acordo, os 27 responsáveis devem tentar inverter o processo.
"Mudar o Brexit seria o maior impulso para a economia e política da Europa e, portanto, precisam de se concentrar na parte que podem desempenhar e fazê-lo", sublinha Tony Blair.
Sublinhe-se que o artigo 50.º do Tratado de Lisboa foi a cláusula que o Reino Unido ativou em 2017, após o referendo que ditou o Brexit e que determinou que a data de saída da UE seja 29 de março de 2019.
O acordo negociado ao longo de 17 meses, pela primeira-ministra Theresa May, parece estar longe de reunir o consenso dos deputados britânicos e o risco de uma saída desordeira é cada vez maior.
Recorde-se que o principal ponto de discórdia prende-se com a relação comercial entre a Irlanda e a Irlanda do Norte, a solução encontrada, conhecida por backstop, baseia-se na criação de um mecanismo para que a fronteira entre os dois territórios continue sem controlos sobre mercadorias, até ser assinado um acordo comercial.
Para Blair, "qualquer que seja a interpretação correta do mandato de junho de 2016, não se pode dizer seriamente que seja 'sem acordo'. E o parlamento opôs-se – e bem – contra tal resultado. Portanto, insistir numa saída abrupta com todas as implicações desastrosas, em vez de colocar a questão de novo à população, seria uma renúncia extraordinária ao dever".
O antigo primeiro-ministro acredita que em vez de se preparar uma ausência de acordo, a UE devia começar a ponderar um novo referendo, aproveitando a oportunidade histórica para fazer uma nova "oferta" ao povo britânico.
Tony Blair defende que essa "oferta" ajudaria a fundamentar a campanha por um novo referendo e "mostraria que a liderança política da Europa e do Reino Unido ouviu as preocupações subjacentes daqueles que votaram no Brexit, sem desrespeitar as preocupações, mas abordando-as de uma forma que não é prejudicial".