A França «precisa de calma, de ordem e de recuperar o seu funcionamento normal», disse o Presidente francês, Emmanuel Macron, no seu discurso à nação no princípio da semana onde anunciou o aumento de 100 euros no salário mínimo e uma isenção na subida da contribuição para a segurança social dos reformados que ganhem menos de 2000 euros.
Os 13 minutos do discurso televisionado do chefe de Estado ecoaram no movimento dos coletes amarelos, levando alguns grupos a equacionar a possibilidade de abandonarem as ruas. O Governo respondeu a algumas das suas reivindicações e, sobretudo, mostrou-se solidário com essa ideia de que existe um «mal-estar» na sociedade francesa, que foi ganhando força nos últimos 40 anos e acabou por rebentar neste protesto.
Macron falou em dignidade, a dignidade de cada francês de poder receber um salário justo pelo trabalho. O primeiro-ministro, Édouard Philippe, quando foi à Assembleia Nacional defender o pacote de medidas anunciado pelo chefe de Estado, também se referiu à questão.
«Queremos avançar depressa, queremos avançar com força, é esse o sentido das medidas que foram anunciadas pelo Presidente da República». São medidas «que visam favorecer o trabalho, a fazer com que o trabalho compense».
Depois veio o atentado de Estrasburgo e a luta dos coletes amarelos passou um pouco para segundo plano. Eles continuaram nas ruas, nas portagens, nas rotundas, nas estradas – infelizmente até houve uma nova vítima mortal, a sexta desde o início do protesto, um colete amarelo atropelado em Avinhão por um camião conduzido por um polaco que tentou furar um bloqueio -, mas as atenções mediáticas concentraram-se na busca de Chérif Chekatt, o autor do atentado.
A ministra da Justiça chegou mesmo a dizer, na quarta-feira, que «o movimento deve cessar». Em declarações à televisão do Senado, Nicole Belloubet afirmou: «Neste contexto em que as forças da ordem estão em alerta, aquilo que pedimos aos coletes amarelos é para pararem o seu movimento, pelo menos, que parem de se manifestar».
Também entre a oposição, pelo menos à direita, se levantaram vozes a pedir pelo menos «uma trégua», pela memórias das vítimas do atentado e porque a polícia estava concentrada na caça ao homem que acabou por terminar na quinta-feira à noite com a morte do atirador. «Precisamos de um apelo à calma, às responsabilidades», disse Damien Abad, vice-presidente de Os Republicanos, aos microfones da Sud Radio.
A deputada Clémentine Autain, de A França Insubmissa, indignou-se no Twitter com a instrumentalização levada a cabo pelo Governo, ligando duas questões que nada têm em comum: «Os Coletes Amarelos não são responsáveis do tiroteio. Para quê instrumentalizar o acontecimento dramático de Estrasburgo, que merece mais uma comunhão republicana, para resolver um conflito social e político?»
Na quinta-feira, numa conferência de imprensa conjunta em Versalhes, Priscilla Losky e Maxime Nicolle, dois conhecidos rostos do movimento dos coletes amarelos «juraram não se separar» até obter uma resposta à exigência de um referendo de iniciativa cidadã e até que haja uma «diminuição dos privilégios de Estado». Para as duas, se é certo que o Presidente afirmou «sentir o mal-estar democrático no país», a verdade é que não adiantou soluções para o resolver. «Que propôs para o resolver? Nada».
Este sábado será a prova de fogo. Uma nova jornada de violência como aconteceu há duas semanas, será um sinal de que as palavras do chefe de Estado não conseguiram sarar a ferida aberta. A acalmia na ruas de França, sem grande mobilização ou confrontos com a polícia, dará ao Presidente o descanso que não tem desde que os coletes amarelos tomaram as ruas a 17 de novembro. Eric Drouet, uma das mais conhecidas figuras do movimento, partilhou um vídeo a incentivar as tropas: «É o momento em que justamente não se deve deixar cair o assunto.»